É com grande satisfação que começarei a narrar, aos poucos, a grande aventura motociclística que empreendi, juntamente com meus bons amigos Daniel e Hsu, em 2002.
Devo destacar, neste início de conversa, que a idéia de contar a história, ainda que resumidamente, partiu do Hsu que, da mesma forma, forneceu-me as fotos digitais da viagem (as fotos boas, todas datadas). As fotos de pior qualidade, como a primeira que segue abaixo, foram tiradas pela minha máquina convencional e scaneadas por mim, conforme os ensinamentos do meu querido amigo Fernando Teixeira (Nobuger).
- Peter!!!, aprendi a "scanear", acredita?
Tudo começou ainda em 2001. Estávamos na casa do Hsu quando eu, que tinha um jipe e, não sei bem o porquê, convidei Hsu e Daniel para, no ano seguinte, irmos de jipe até Ushuaia, extremo sul da Argentina, ou melhor, extremo sul do Mundo. Seria uma viagem de um mês.
Expus o caso com eloquência, lembro bem. Disse que o jipe, um Defender 90, era confortável (ar condicionado, direção hidráulica, cd player etc), poderíamos os três dirigi-lo alternadamente, não teríamos problemas com as condições das estradas, em especial quanto ao tão temido rípio (material arenoso de que são feitas as estradas que levam à Terra do Fogo). Enfim, deixei bem clara a minha opinião acerca da economicidade (diesel), conforto e segurança do jipe (4x4 full time).
Eu bem que poderia valorizar um pouco a discussão, mas a verdade é que eles não deram a mínima importância aos meus argumentos: "Somos motociclistas, só viajamos de moto!". Fiquei calado e tive de concordar.
Então seria uma viagem de moto, afinal. Contávamos com alguma experiência sobre duas rodas: Paulo Afonso, Salvador, Recife, João Pessoa, Natal, Caruaru, Garanhus, Arapiraca, Paripueira (kkkk), Aeroporto Zumbi dos Palmares (kkk), afora outras pequenas viagens.
Tudo bem, vamos de moto.
Iniciado o planejamento, percebemos que as motos não eram adequadadas para enfrentar o famigerado "rípio argentino" (eu queria ir de jipe, pensei). Além disso, numa viagem de moto, roda-se menos por dia e a necessidade de descanso é maior, a chuva atrapalha mais e, conduzir à noite, nem pensar. Noutras palavras: o tempo não seria suficiente.
Assim, chegamos à conclusão de que não deveríamos, ou melhor, não poderíamos ir até Ushuaia, não nas motos de que dispúnhamos (duas bandits e uma marauder, todas Suzuki). Nossas motos eram de uso exclusivo em pista pavimentada, rodar no rípio seria pedir para cair, várias e várias vezes, no fim do mundo, muito longe de qualquer tipo de socorro ou reparo.
Conversa vai, conversa vem, não lembro bem ao certo, mas surgiu a idéia de, pelo menos, irmos até o Chui, fronteira com o Uruguai e extremo sul do Brasil. Fixada a idéia, passamos a planejar o roteiro, assim como as datas e todos os demais detalhes do que passamos a chamar "Expedição Chui".
Hsu teve a brilhante idéia de, através da internet, entrar em contato com os motoclubes das cidades pelas quais passaríamos. Isso, posso dizer, fez toda a diferença. Conhecemos muita gente e fomos bem recebidos em todos os lugares.
Tentarei contar a história a partir das fotos:
Primeira foto da viagem, tirada ainda em Alagoas. Acho que estávamos em algum lugar entre Junqueiro-Porto Real do Colégio. Daniel e Hsu, por trás da Marauder 800 do Daniel. A moto vermelha era a minha Bandit N1200. Paramos para tirar essa foto da estrada, pois até então estava chovendo muito. Bem, a pedido do Hsu devo contar que a moto do Daniel soltou alguns parafusos do bagageiro, até Salvador. Acho que paramos mais de duas vezes para reapertar ou recolocar novos parafusos.
Linha Verde, Bahia: Daniel e eu, ladeando um motociclista bahiano muito simpático, que fez questão de nos parar para uma boa conversa no meio do nada. Chamo a atenção para a moto do cidadão, uma bela BMW
grand tour. Ao fundo, na linha do horizonte, um pedaço do mar. As condições da Linha Verde são muito favoráveis, o trecho é agradabilíssimo. Não obstante, devo salientar que, salvo engano, foi o único lugar em que pagamos pedágio. Se me lembro corretamente, rodamos também em estradas privatizadas em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
Ainda na Linha Verde. Na primeira foto, eu e Hsu em um posto de combustível, quando encontramos um grupo grande de motociclistas que estavam indo para um evento em Itabuna. Não tenho foto com o meu amigo e colega Paulo dos Anjos, mas ele estava conosco nesse dia, tendo partido de Arapiraca rumo a Itabuna. Lembro que tinha um motociclista de outro estado, um sujeito magro e com uma longa barba preta e branca, que Paulinho tratou logo de chamá-lo de "Bin Laden". Na segunda foto, eu com a minha moto, ou ex-moto (agora). Parece uma CG 125, eu sei, mas é uma Bandit N1200, 04 cilindros em linha, uma bela naked, verdadeira muscle bike, com desafiadores 100 cavalos, ou seja, quase uma esportiva. Acho que a minha era modelo 2000, refrigerada a ar, sendo essa uma concepção meio antiga para motos de grande motor.
Vendi-a em 2003 ou 2004 para o meu amigo George Brasileiro que, atualmente, tem outra Bandit, mais nova, preta, acho que é a 1250S, ou seja, uma moto semicarenada e bem mais moderna.
Disse o George que a atual Bandit tem maior distância entre-eixos, injeção eletrônica etc... a minha era carburada, o que é um grande abacaxi, com as gasolinas batizadas que temos por essas estradas.
Por falar em distância entre-eixos, não posso esquecer de consignar o dia em que o Daniel pediu para dar uma voltinha na Bandit. Acostumado a acelerar, com vigor, a Marauder, Daniel tentou fazer algo parecido na minha moto. Resultado: empinou a roda da frende, como nos shows. Não caiu, mas levou um grande susto. Então, aumentando-se a distantância entre-eixos, torna-se mais difícil empinar.
Ok, já falei demais...
Daniel e Hsu no ferry boat. Ficamos junto das motos, perto das bagagens, claro.
Itabuna-BA. Defronte ao hotel. Acho que estávamos de partida, rumo ao Espírito Santo, Linhares. Dormimos nesse hotel na segunda noite da viagem. Na primeira noite dormimos em uma pousada na Ilha de Itaparica, após cruzarmos o canal no ferry boat. Lembro que nos perdemos em Salvador, por culpa minha. Eu disse que sabia o caminho, mas despois descobrimos que não eu sabia direito. Enfim, encontramos o caminho após alguns pedidos de informação. Na primeira noite dormimos todos no memo quarto, fato que não mais se repetiu durante toda a viagem. Aquele monte de bagagem, um único banheiro e os roncos foram o suficiente para decidirmos, dali por diante, ficar cada um em seu próprio apartamento. Claro que os custos da viagem foram incrementados, mas a amizade do grupo foi garantida por essa medida. Se encontrar alguma foto de Itaparica, coloco depois no blog.
Itabuna
Nós e o legendário Ruiter, conhecido de todos os motociclistas do Brasil.