segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dom Pedro II










Ingratos



Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.


Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua f'licidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.


Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,


É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.


Dom Pedro II

3 comentários:

  1. Humberto.

    Certamente um dos destinatários de tão sentido poema, foi o nosso festejado Mal. Deodoro da Fonseca.

    ResponderExcluir
  2. Caro Isaac,

    Quando decidi postar o soneto, mais pela distinção do autor do que pela qualidade literária da obra, sabia que, inevitavelmente, receberia um comentário seu.
    Intui, também, que seu comentário traria alguma informação enriquecedora.
    Pensei: "o Isaac vai comentar", pois aprecia, como eu, as passagens históricas que revelam traços psicológicos e comportamentais dos grandes ícones.
    Um grande abraço!

    ResponderExcluir
  3. Pois é.

    Para quem, antes, havia jurado acompanhar o caixão do velho Imperador, ser o proclamador foi um grande golpe para o deposto.
    Não acompanhou o caixão do Imperador, mas, com certeza, o fez entrar rapidamente nele.

    ResponderExcluir

Muito obrigado pelo comentário!