Ingratos
Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.
Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua f'licidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.
Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,
É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.
Dom Pedro II
Humberto.
ResponderExcluirCertamente um dos destinatários de tão sentido poema, foi o nosso festejado Mal. Deodoro da Fonseca.
Caro Isaac,
ResponderExcluirQuando decidi postar o soneto, mais pela distinção do autor do que pela qualidade literária da obra, sabia que, inevitavelmente, receberia um comentário seu.
Intui, também, que seu comentário traria alguma informação enriquecedora.
Pensei: "o Isaac vai comentar", pois aprecia, como eu, as passagens históricas que revelam traços psicológicos e comportamentais dos grandes ícones.
Um grande abraço!
Pois é.
ResponderExcluirPara quem, antes, havia jurado acompanhar o caixão do velho Imperador, ser o proclamador foi um grande golpe para o deposto.
Não acompanhou o caixão do Imperador, mas, com certeza, o fez entrar rapidamente nele.