terça-feira, 25 de agosto de 2009

Diálogos - 16

(X) - Seu livro é sobre o quê?

(Eu) - É um romance.

(X) - Ah... uma história de amor!

(Eu) - ... ai, ai! (em pensamento)




Um romance não é, necessariamente, uma história de amor.
Uma história de amor não é, necessariamente, um romance.


Um romance seria, digamos, uma obra longa (ou não-curta) de ficção. Longa no sentido de ser maior do que um conto.
Uma história com até 50 páginas pode ser considerada um conto, mas essa divisão não é muito precisa. A verdade é que não há parâmetros fixos ou legais, apenas acadêmicos.
Há muitos anos, quando conversava com um amigo, disse-lhe que gostaria de cursar Letras, para aprimorar a minha técnica e obter mais conhecimentos, tudo com o intuito de escrever melhor. Eu tinha essa pretensão, ou melhor, essa ilusão.
Meu amigo fez-me ver que o essencial, na arte literária, não seria o academicismo. Muito pelo contrário. Conhecer as definições, as opiniões, as técnicas, por vezes, pode até atrapalhar. Segundo ele, cujos ensinamentos guardo como verdadeiro tesouro, o importante seria ler outras obras, sempre que possível, e escrever muito. Em sua opinião, ainda, o brilho literário de um escritor criativo e sem parâmetros técnicos seria muito mais apreciado do que a arte parnasiana de um seguidor de manuais.
Não estou criticando o curso de Letras, por favor. Eu mesmo o segui por um ano. Até hoje sinto saudade e, vez por outra, penso em voltar. Talvez um dia volte, quem sabe...
Além disso, tenho muitos amigos formados em Letras. Admiro-os e admiro o curso.
O que estou tentando dizer é que, para ser um bom escritor, não é necessário cursar Letras. Não me interpretem mal.
Convenções e consensos literários à parte, o problema de se confundir um romance com uma história de amor não há na Língua Inglesa: conto (short story), romance (novel). Fica bem mais fácil assim, não é?

...

(X, Y, Z etc.) - Quem é Nanna?

(Eu) - Só falo sobre o livro com quem o leu...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Texto - Mais uma contribuição do amigo Isaac Sandes


O CANALHA



Na galeria de tipos humanos, o canalha certamente tem seu lugar de destaque.
Não confunda o canalha com o mau caráter. O mau caráter é um tipo asqueroso; covarde; traiçoeiro e sem o menor glamour. Identificado, o mau caráter é prontamente escorraçado de qualquer meio, sem que tenha, em seu favor, manifestação embrionária de defesa. Nem que seja de um bom Samaritano.
Enquanto o verdadeiro e caricato canalha…!!! Esse não !
O autêntico e secular canalha é dotado de um glamour e um charme que faz com que, seus atos, mesmo condenáveis à primeira vista, sejam, após prudente distanciamento, reavaliados com um certo ”que “ de romantismo canastrão.
Os contumazes frequentadores dos outrora românticos bordéis, sabem do que estou falando. Lá, os verdadeiros canalhas sempre foram os seres mais destacados e paparicados pelas literais animadoras da torcida.
O canalha de bordél, se sentia num à vontade difícil de descrever por um escrito puritano. Ele desfilava no puteiro, como se fosse um sargento linha dura passando em revista um pelotão de borrrados recrutas. Olhar altivo; queixo levantado; peito estufado num Passo de Ganso. Parecia um Duce.
Lá ele sempre foi alvo dos mais elevados encômios e destinatário de respeito reverencial. Até dos mais antigos frequentadores. O canalha dominante do Bordel era o pavor dos semi desvirginados adolescentes que, saídos do seu rito de passagem, vagueavam, ainda, inseguros e temerosos em território que era todo do canalha.
O canalha do qual estou falando é aquele que empresta um colorido especial ao monótono tecido social.
Quem viveu a infância num cidadezinha de interior, sabe que o canalha local é aquele que fornece o combustível para as rodas de fofocas que se formam à noite nas pracinhas, bem como fornece matéria prima para o linguarudo barbeiro.
Qual cidade de interior não possui os seus canalhas de estimação ?
São eles representados pelas mais diversas subespécies:
É o velhaco contumaz; o dono da venda que todos sabem ser o mais descarado ladrão, no preço e no peso; o agiota que posa de moço bom, frequentando e participando de todos os eventos da paróquia; é aquele corno desentendido, que faz questão de contar as qualidades empreendedoras da esposa; o camelô trambiqueiro vendendo óleo de Peixe-Boi nas feiras; o Padre que, na baixa, come a recatada beata; o vizinho que, respeitosamente, vive chifrando seu mais estimado cumpadre; o mentiroso folclórico; a velha e vigarista macumbeira que promete resolver qualquer problema de amor não correspondido, afastar olhos cobiçosos e promover a cura daquele irrecuperável broxa.
Enfim! Tais tipos, são Pedros Malazartes materializados diante de nossos olhos.
Todos nós sabemos quanto carregam de canalhice no seu DNA, mas se extirpados do contexto social, o nosso cotidiano se tornará tão insosso quanto uma refeição de hospital.
O canalha é um ser autêntico, é o homem em estado bruto . É um representante da humanidade sem os arreios éticos e morais. Se a embriaguês é a mão que levanta o manto e revela o canalha que existe por baixo de cada envernizado cidadão, como bem expôs nosso cronista. Ao canalha tal recurso é desnecessário, pois ele é o que é em si mesmo.
Toda inteligente e sábia comunidade, sabe amar respeitar e conviver pacificamente com seus canalhas. Sabe que, na maioria das vezes, os males causados pelos canalhas são de pequeno potencial ofensivo e que tais atos, tolerados, renderão ao coletivo vasto material que alimentará as futuras lendas, desencadeará discussões e análises que irão beirar vedadeiras teses freudianas.
De tal importância se reveste o canalha que cada nação tem o seu como um mascote.
O nosso é o Pedro Malazarte; os americanos o tem na figura do Tio Sam; a Itália tem o seu amado Casanova; na Espanha Dom Giovanni e Robin Hood na Inglaterra. As crianças o idolatram nas figuras do canastrão Pica Pau e do maldoso Jerry.
Uma roda de Jogo é uma ambiente que transpira e cheira à canalhice.
Nosso Bem Amado, Odorico Paraguaçú!! Existiu ou existirá canalha mais charmoso, mais brilhante e mais identificado com um pedacinho de cada um de nós ?
O impagável Vadinho de Dona Flor ! Lorde Cigano de By By Brasil, Seu Quequé, o caixeiro viajante de Rabo de Saia. São apenas alguns exemplos dos grandes e amáveis canalhas que povoam nosso cotidiano artístico.
Na arte da conquista e nos jogos do amor, o canalha é imbatível.
Tente competir com um, e verá o resultado !
Mostre à abatida vítima de um canalha qual é sua verdadeira face e amealhará um definitivo inimigo.
Tais características e particularidades fazem com que, ao verdadeiro canalha - por mais combatido que seja pelos falsos moralistas - sempre irá restar o incondicional apoio da maioria, pois sem ele, ela perderá algo que existe e que nunca deixará de existir sob as suas históricas camadas de verniz, a sua própria canalhice. Afinal, já vaticinava o imortal Nelson Rodrigues : “ A virtude pode ser muito bonita, mas exala um tédio homicida".
Isaac Sandes - 03/05/09.

domingo, 23 de agosto de 2009

Música!

Uma bandinha tocava hoje, à tarde, numa das barracas da Ponta Verde:

Wish You Were Here
Pink Floyd

So, so you think you can tell
Heaven from Hell
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

Did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold confort for change?
Did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish
How I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl
Year after year
Running over the same old ground
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Expedição Chui 2002 - APÊNDICE 01

Dentre as inúmeras comodidades disponibilizadas pela informática, encontra-se a possibilidade de guardar, por muito tempo, arquivos que um dia poderão se tornar verdadeiras preciosidades.
Não me refiro ao valor material, inexistente na grande maioria das vezes, mas ao valor sentimental. Muda a tecnologia, mudam os computadores, mas sempre poderemos transferir nossos dados para as novas máquinas, que invariavelmente possuem mais memória.
Estava eu, agora há pouco, remexendo em meus arquivos antigos, de três computadores atrás, passeando entre textos pessoais e de trabalho, alguns datados de 1997, quando encontrei um chamado "Carta aos Motoclubles", gerado em 2002.
Tive a sensação de ter me deparado com o "elo perdido". Eu sabia que esse não seria o nosso primeiro contato com os motoclubes da rota da Expedição Chui, uma vez que as primeiras comunicações já tinham sido providenciadas pelo Hsu.
Abri o arquivo com grande curiosidade. Nem lembrava mais desse pequeno texto, que mandamos para os motoclubes das cidades onde passaríamos alguma noite ou nos demoraríamos mais, poucos dias antes da partida, quando o roteiro já estava praticamente fechado.
Não é um primor de redação e criatividade, mas foi o texto de e-mail que usamos.
"Amigos motociclistas,

É uma satisfação nos dirigirmos aos caros colegas por meio desta correspondência.
Nós (Hsu, Daniel e Humberto), somos integrantes do Motoclube Falcões de Alagoas. No próximo mês de março, estaremos fazendo uma longa viagem de motocicleta através do Brasil. Partindo de Maceió (AL), iremos até o Município de Chui (RS). Nosso projeto pode ser encontrado na internet, no seguinte endereço:
www.falcoesdealagoas.hpg.com.br
O presente contato justifica-se porque teremos o prazer de passar por sua cidade, que foi incluída em nosso roteiro justamente por termos conhecimento da existência de um Motoclube tão reconhecido e organizado como o de vocês.
Para nós será uma honra conhecê-los. Gostaríamos de saber como podemos encontrá-los. Pedimos a indicação de hotéis, com estacionamento, onde possamos ficar em segurança com nossas motos.
Um forte abraço e até breve."

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Expedição Chui 2002 - 04 - Santos & São Vicente - SP

Sei que já faz um bom tempo desde que parei de contar a história da viagem. Prometo que vou tentar escrever, quem sabe, um capítulo por semana.
Bosco e Pedro, lamentavelmente, não confiam mais em minhas promessas, principalmente se forem relacionadas a alguma viagem futura. Não tiro a razão deles, pois sei que fiz por onde, pelo menos três vezes. Aliás, nesse sentido, tem um ditado que nunca esqueço: "Se uma coisa aconteceu uma vez, pode ser que nunca mais aconteça de novo. Mas, se aconteceu duas vezes, pode estar certo de que acontecerá novamente e não há qualquer razão para se supor que não continue acontecendo, indefinidamente".
Entretanto, como este relato não diz respeito a uma viagem futura, mas a uma viagem do passado, pode ser que as coisas sejam diferentes.
Primeiro um desabafo... (e quem me conhece sabe que não suporto a palavra "desabafo", muito menos o verbo "desabafar". Quer me irritar? Encontre-me pensativo, ou mesmo triste e me diga, com a melhor intenção: "desabafe!"). São essas e outras idiossincrasias que nos tornam singulares.
Voltemos ao famigerado desabafo (eca!): Quando comecei a contar a viagem, que ocorreu há mais de sete anos, fiquei empolgado com a expectativa de receber comentários complementares do Hsu e do Daniel. Pensei que eles iriam relembrar as resenhas e as marmotagens que eu eventualmente tivesse esquecido. Mas, como podem comprovar, Hsu mal se manifestou, enquanto Daniel não deu o ar da graça. Fiquei aborrecido, ainda que levemente, pois pensava que seria diferente. Todos temos nossas susceptibilidades.
Ok, agora a viagem.
Onde estávamos mesmo?
Ah! Atravessamos o Rio de Janeiro, Capital, tomamos café da manhã num posto cheio de caminhões. Paguei os sanduíches. Abastecemos? Acho que sim, não lembro. Pegamos a Rio-Santos, ocasião em que lembrei da música do Roberto Carlos "As curvas da estrada de Santos...". São muitas curvas mesmo. Muito calor, alguma chuva, Angra, Parati, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, Guarujá etc e tal, chegamos ao ferry boat, fotos abaixo:


1º de Abril, Dia da Mentira. Seguramente algum de nós contou alguma mentira bem legal, pena que não lembro.
Por outro lado, lembro que após as belíssimas curvas do litoral paulista, enfrentamos algumas retas com excelente pavimento. Estou certo de que passamos por trechos privatizados. Recordo, com uma pontada de nostalgia, que motos não pagavam pedágio. Salvo engano, e creio inclusive que já salientei isso, pagamos pedágio apenas na Bahia, na Estrada do Coco, antes da Linha Verde. As coisas devem estar diferentes agora nesse imenso país.
A foto acima não me traz boas recordações. Primeiro porque eu estava muito cansado, muito mesmo. Minha moto precisava de reparos, ajustes e adaptações, uma vez que se tornara bastante desconfortável pilotar com o barrulho ensurdecedor do escapamento furado e, ergonomicamente, encontrava-me em maus lençóis: a posição semiesportiva da Bandid N1200 fez mal às minhas pernas e costas.
Estávamos nessa lanchonete, situada à beira-mar de São Vicente, quando falei para os meus companheiros que iria ficar por ali mesmo, ou seja, não seguiria com eles até o Uruguai. Verdade! Eu não sabia se os acompanharia na volta ou se despacharia a moto, de qualquer forma, retornando de avião para casa.
Está rindo? Pois foi a mais pura verdade. Entreguei os pontos, desisti. Aquele era o fim para mim, pensei...
Outra razão para não gostar da foto é que, nessa lanchonete, comemos um prato gigantesco de batatas fritas. Será que Daniel e Hsu lembram disso? Eu, particularmente, recordo muitíssimo bem, visto que, ao chegar ao hotel, constatei da pior maneira que meu estômago não aceitaria digerir aquele inesperado, inoportuno e imenso aporte de óleo de soja. Vomitei tudo. Peço desculpas por essa passagem escatológica.

Oficina da Suzuki. Santos ou São Vicente? Não lembro. Para quem não sabe, Santos e São Vicente são municípios, ou melhor, cidades limítrofes. Não há solução de continuidade urbana. Noutras palavras, parece uma única cidade.
Observe que estamos com camisetas iguais, brindes da Suzuki.
Eita... não estamos na oficina da Suzuki. Isso é uma loja de pneus, agora lembrei melhor.
Esperei muito tempo para dizer isso: "Troquei o pneu dianteiro, Hsu trocou o traseiro!". Engraçado, não? Tenho essa piada na manga, para sempre, pois realmente troquei o pneu dianteiro e o Chinês trocou o pneu traseiro da sua moto.
- Hsu, foi mal! Não tem aquela história de que se perde o amigo e não a piada?
Daniel não trocou pneu, salvo engano já os tinha trocado em Maceió. Além disso, os pneus das Bandits são mais macios, então gastam mais rápido. Os pneus da Marauder, uma moto custom, são mais estradeiros e menos esportivos, portanto mais duros, rendem mais. As trocas de pneus, minha e do Hsu, já estavam programadas.








Nas quatro fotos acima está registrado nosso primeiro encontro com os MotorsVivos, Motoclube de São Vicente-SP.
Nas duas últimas fotos, o sujeito da extrema direita é o nosso amigo Gouveia. Sim, isso mesmo, Gouveia, mesmo nome do nosso outro amigo de Linhares-ES.
O Gouveia de São Vicente, na ocasião, era o Presidente do MotorsVivos. Mantivemos contato prévio, via internet, fato que, não apenas em Santos e em São Vicente, fez com que fossemos muito bem recebidos pelos mais diversos motoclubes do caminho. Será uma satisfação, sempre renovada, recordar e destacar a hospitalidade motociclistica que encontramos em nossa rota.

Passamos um bom tempo em Santos. Salvo engano, quatro a cinco dias.
04 de abril, meu aniversário.
A foto acima, sem dúvida tirada pelo Gouveia, foi em frente ao hotel em que nos hospedamos. Lembro que o hotel não era bom, mas também não era muito ruim. Seria, digamos, um hotel "turístico", algo entre duas e três estrelas. Duas estrelas e meia, no máximo.
Nossa demora em Santos foi devida a vários fatores, dentre eles duas idas a São Paulo, Capital. Não fui da primeira vez, posto que estava meio detonado, como diziam. Eu ainda estava naquela de desistir de seguir em frente etc.
Fui a Sampa da segunda vez, inclusive dormimos lá, no bairro da Liberdade, no hotel Banri. Passeamos na Capital Paulista, compramos as peças de que precisávamos e visitamos uma feira no Anhembi, salvo engano. Meus primos Roberto e Rodrigo estavam por lá, expondo seus produtos.
Hsu comprou um radiador novo, pois o dele havia furado. Comprei um novo escapamento e pedaleiras que adatei no matacachorro. Foram essas peças, as pedaleiras e o scap, que me possibilitaram seguir adiante. Como num passe de mágica, as pedaleiras "adiantadas" solucionaram as dores nas pernas e nas costas, enquanto que a surdina inox fez a moto ficar uma delícia de silenciosa. Vivendo e aprendendo.
Já que falei do hotel de Santos, agora vou dar a exata idéia do que eu quis dizer com inesquecível e calorosa hospitalidade: os MotorsVivos simplesmente pagaram as nossas despesas no hotel! Quando digo despesas, incluo também as diárias.
Essa foto deveria estar acima, junto com as demais do dia 03 de abril!
Destaque para o Daniel, com outra das camisetas que ganhamos da Suzuki.
O sujeito que está ao lado do Daniel, também agachado, se não me falha a memória, era o que os MotorsVivos chamam de "ovo". "Ovo" é o aspirante, graduado, a integrante do motoclube. Quando se pretende ingressar no motoclube deles, segundo nos disseram, passa-se um tempo apenas os acompanhando. Isso sem esquecer que, para pleitear o ingresso, tem de ser indicado por um integrante efetivo. Pois bem. Passa-se um tempo sem qualquer identificação. Posteriormente, o aspirante recebe um colete de couro, sem nada. Depois de algum tempo, o referido colete de couro recebe um bordado branco e oval, nas costas, em formato de ovo. Dai a denominação "ovo". Esse bordado oval e branco nada mais é do que o pano de fundo de um outro bordado, que será concedido ao aspirante que lograr efetivação, por bom comportamento e companheirismo. Assim, terminado o rito de passagem, o novo sócio do motoclube recebe o bordado do brasão dos MotorsVivos em cima do fundo branco, ou seja, do ovo.
Espero não ter dito besteira, mas acho que foi isso que o Gouveia nos informou. Seria ótimo que o Hsu e o Daniel complementassem as informações, mas perdi as esperanças...
A foto acima é na sede dos MotorsVivos. Muita gente, todo tipo de moto, inclusive scooters como Honda Biz etc. O ambiente é altamente familiar, verdadeira irmandade. Nós nos sentimos em casa, todos queriam conversar e tirar fotos conosco. Noite inesquecível, não nos deixaram pagar nada, como sempre.

Daniel tomando pepsi. Não devia ter coca-cola, claro!
Muitos motociclistas, principalmente de motos custom, gostam de usar coletes, como os da foto acima. Costumam colocar pins metálicos, bordados etc.
Eu, particularmente, nunca tive vontade de possuir um desses.
Mais coletes e mais pins.

Nosso amigo "ovo", à esquerda.
Um motociclista acidentado, à direita.

Gouveia, o Presidente, com dois de seus companheiros.
Eles estão tomando cerveja, a foto não nega. Aproveito a ocasião para salientar que eu, Hsu e Daniel não bebemos quando estamos de moto. Hsu e Daniel, aliás, não bebem em hipótese alguma.

Mais MotorsVivos.

A campeã dos pins metálicos, com seu colete que mais parece um vestido.
Daniel e sua pepsi.
Eu sem colete, como sempre, mas com o celular na cintura... ridículo, hoje eu sei.
Em frente a sede dos MotorsVivos. Motos de todos os tipos e tamanhos.

Essa foto é historica. O cidadão de branco é o "Seu" João, se não me engano quanto ao nome. O outro, de azul marinho, seu ajudante.
Seu João é o que poderíamos chamar de mago da mecânica de motos: conseguiu regular os motores das nossas motos. Pode parecer simples, mas não é, posto que as motos eram carburadas. Para se ter uma idéia, os própios mecânicos da Suzuki, em mais de uma ocasião, não conseguiram fazer com que as nossas máquinas trabalhassem "redondinhas", como ficaram após a intervenção desse supermecânico.
Em uma oficina rústica, de ponta de rua, mas com equipamentos adequados, Seu João nos fez rodar, até o fim da viagem, com muito mais economia e desempenho. Daniel poderia explicar melhor o procedimento adotado. Lembro que demorou muito e não foi barato.
Jantamos com o Gouveia, em 04 de abril, em uma churrascaria.

Essa foto também deveria estar lá em cima.
Mas, já está tarde e estou cansado.
Quis postar hoje mesmo e escrevi tudo meio rápido e numa única sentada. Poderia ter sido mais detalhista, mas a vontade de postar logo foi mais forte.
Perdoem eventuais erros de Português ou palavras truncadas. Decidi que não vou revisar nada, pelo menos não por hoje...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Texto - Mais uma excelente contribuição do amigo Isaac Sandes

A RADIOLA DA CAFETINA

“Quem tripas comeu e com viúva casou, sempre há de se lembrar do que por lá andou."
O sábio provérbio português serve muito bem a quem queira evocar reminiscências de suas raizes.
Mergulharei agora, a uma profundidade de aproximadamente 40 anos, para resgatar de minha infância, pendores e gostos que, engastados nas profundas minas do tempo, vez por outra afloram como auríferos veios.
Quem de nós, vez em quando, não se delicia nesta solitária e vivificadora garimpagem de memórias ?
Relembrar, é viajar no tempo sem as dispendiosas e futuristas máquinas da literatura ficcionista.
É uma viagem franca e baratinha. Verdade que, vez por outra, nossa nave viageira teima em passar perto, ou mesmo atingir lembranças que fazemos questão de desviar e trancar à sete chaves no mais profundo sótão da memória. Mas, se bem conduzirmos nossa barata nave, poderemos usufruir das mais doces, mais ternas e gratificantes lembranças.
Neste momento, minha fantasiosa máquina do tempo se dirige, em profundo vôo para tentar descobrir ou suspeitar de onde surgiu, ou, onde se amalgamou meu gosto pela música.
Minha primeira parada é no doce e afinado cantar de minha mãe, que enfrentava a faina diária com as armas da música, interpretando magistralmente as mais diversas cantigas do cancioneiro popular.
Próxima estação. A casa vizinha onde o carroceiro Cartolinha, em suas horas vagas, dedilhava competentemente um violão e eu, como seu moleque preferido, durante horas e horas, o acompanhava naquelas fugas de seu duro dia- a- dia.
Já mais adiante, me vejo peruando a roda de choro, formada por João de Santa, Paulo dos Meirús, Adail Arruela e Luiz de Bão na percussão.
Nesse grupo, a figura de Adail Arruela se destacava, tanto pela competência musical, quanto pela orígem de seu apelido. “Arruela “ ( uma referência indireta à sola de que as arruelas eram feitas naquele tempo).
Contam os mais antigos que Adail ganhou esse apelido após pitoresco episódio havido em uma farra. Seguinte: Dizem que Adail apesar de exímio violonista, era dado a uma certa enrolação. De poucas posses, aproveitava as farras para fazer, dos suculentos tira-gostos ali servidos, o seu gratuito restaurante. Tanto assim, que não havia tira-gosto que bastasse para o voraz Adail. Após ter comido todo o tira-gosto, Adail se enfadava e sempre arranjava um jeito de, lá por altas horas, quando sabia tudo fechado, arrebentar as cordas de seu violão e, de barriga cheia, rumar pra casa para um reparador sono.
Como na esbórnia a malandragem é de todos. Os colegas de farra de Adail logo identificaram sua manha e lhe preparam o troco.
Combinaram nova farra, convidaram Adail sob promessas dos mais variados e apetitosos tira-gostos e lhe aprontaram a armadilha.
Colocaram vários pedaços de sola no molho por alguns dias, lhes adicionaram quase uma caravela de temperos e especiarias, então, fritaram os bifes de sola e os envolveram em irresistível farofa acebolada.
Ao sentir as emanações do redentor prato, Adail quase estraga seu violão, agora com a baba quase epiléptica que lhe escorria pelos cantos da boca.
Iniciada a farra, Adail lançou-se sobre o prato de tira-gosto, que não sabia ser de sola, com voracidade de uma hiena. Mastiga…, mastiga, e nada de car cabo dos insuspeitos bifes. Dessa vez, a farra viu o nascer do dia sem que as cordas do violão de Adail se quebrassem. Finalmente, a ficha de Adail só veio cair quando um gaiato, sem se conter, começou, em referência à sola, a chama-lo de Arruela. Então o tempo fechou, os exaustos farristas, levaram um bom tempo para conter a fúria de Adail. Daquele dia em diante, quem o chamasse de Arruela, corria o risco de levar alguns pontos na cabeça provocados por um braço de violão.
Sem dúvida, outro ponto musical que me emprenhou de influências musicais, ficava na casa de Dedé de Burdão, velha irascível e quase intragável, mas que se tornava uma seda quando recebia, em visita, sua filha, uma notória cafetina.
Diziam os mais velhos que, na juventude, aquela alquebrada cafetina havia sido uma morena de curvas mais perigosas do que as da estrada de Santos. Tal fartura e formosura, nas artes do amor e que tais, passaram a servir ao coletivo, tornando-a uma das mais requisitadas e bem sucedidas no milenar ramo.
Mas, alcançada pela dureza e crueldade do senhor tempo, aos poucos, foi perdendo seus encantos e passando a ocupar o posto que as mais inteligentes ocupam quando chegam ao ocaso na carreira. O de Cafetina.
Ungida na nova plataforma sexual, estabeleceu-se como a mais requisitada casa da Rua Chico Nunes, baixo meretrício de Palmeira dos Indios. E, tendo amealhado razoáveis recursos, vez por outra, tal qual uma Chica da Silva sem Arraial, em Feliniana caravana, visitava sua mãe, Dona Dedé.
Essa visita era quase um evento em nossa pequena cidade, porque a cafetina chegava com uma verdadeira entourage, abalando os dias calmos da Rua de Cima, onde se estabelecia. Na suaTroupe, tínhamos invariavelmente, um Cafetão da hora, uma nova putinha nova em estágio probatório, um ou dois viados que cuidavam da cozinha ou da arrumação da casa, um magro leão de chácara e seus sobrinhos que ajudavam na administração do negócio.
Por outro lado, eu, um inocente garoto de nove ou dez anos, não conseguindo ver, no momento histórico, que a peça mais importante daquele profano cortejo era, na verdade, a putinha estagiária, dirigia toda minha atenção e alegria para uma enorme radiola de madeira que, dia e noite, tocava os mais recente sucessos de Moreira da Silva, Nelson Gonçalves e Altemar Dutra, vez por outra, acompanhada pela bela voz da dona.
Ali, de pé em frente a uma das janelas da humilde casa que não tinha nem eira nem beira, passava horas e horas ouvindo, num momento, o som da grande radiola da cafetina, noutro, a voz de sua dona, que, acompanhada em segunda voz por seu Cafetão da hora, demonstrava os pendores artísticos que a tinham alçado ao atual status.
Inocentemente, imaginando ser aquela desenvolta mulher uma empresária de grande sucessou eu, ali naquela janela, trocando, vez por outra, o pé cansado da demora, ia torcendo para que o seu sucesso nunca declinasse, pois se tal acontecesse eu definitivamente perderia o inenarrável prazer de escutar a radiola da cafetina.

Isaac Sandes
Maceió 07/05/2009