quarta-feira, 29 de abril de 2009

Poesia

Apenas muito recentemente tomei conhecimento da poesia de Wislawa Szymborska. Essa polonesa, nascida em 1923, tem sua instigante poesia marcada pela concretude e, por assim dizer, voltada ao cotidiano, segundo a crítica literária. Gostaria de tê-la descoberto antes.



AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS


Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.

Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.

(Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves)


Não gostou?
Acho que ela não vai se importar muito, considerando que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1996.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Diálogos 07

(Eu) - Estou pensando em treinar Aikido, o que acha?

(Spot) - Melhor você fazer um curso de massagem!

(Eu) - kkkkk..., que história é essa?!

(Spot) - Pense bem... vá por mim, você não vai se arrepender...

Poema do primo Fausto

CIRANDA DA VIDA



Ouço pássaros distantes
A brisa perfuma a paisagem
Lembranças tão vivas chegam e se deixam ficar
Nem lembro por quem chorar

Vadios pensamentos
Entremeiam hiatos longos
Há vontade de viver como antes
Nem lembro por quem chorar

Já não prezo o presente
Me preparo para o futuro
Uma alma renova todas as vidas
Não preciso lembrar por quem chorar...

Fausto Luiz

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Show!

Muita gente não sabe, mas rolou um show do Biquini Cavadão, em pleno domingo. Alguns amigos e boa música. Um perfeito "Domingo à noite".
Cantamos, todos juntos, pulando:


TIMIDEZ


Toda vez que te olho,
Crio um romance
Te persigo, mudo
todos instantes
Falo pouco pois
Não sou de dar indiretas
Me arrependo do que digo
em frases incertas
Se eu tento ser direto, o medo me ataca
sem poder nada fazer
Sei que tento me vencer,
acabar com a mudez
Quando eu chego perto,
tudo esqueço e não tenho vez
Me consolo, foi errado o momento, talvez,
Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez
Eu carrego comigo a grande agonia
De pensar em você, toda hora do dia
Eu carrego comigo, a grande agonia
Na verdade nada esconde essa minha timidez
Na verdade nada esconde essa minha timidez
Talvez escreva um poema
No qual grite o seu nome
Nem sei se vale a pena
Talvez só telefone
Eu me ensaio, mas nada sai
O seu rosto me distrai
E, como um raio,
eu encubro, eu disfarço, eu camuflo, eu desfaço
Eu respiro bem fundo,
hoje eu digo pro mundo
Mudei rosto e imagem,
mas você me sorriu,
Lá se foi minha coragem,
Você me inibiu

domingo, 26 de abril de 2009

Para refletir 02

"Virtue is harder to be got than knowledge of the world; and, if lost in a young man, is seldom recovered"

J. Locke

Epígrafe do livro "Corrupção, dinheiro público e sigilo bancário - Desconstituindo mitos" de Karla Padilha Rebelo Marques, Ed. Núria Fabris.

Tradução, da própria Karla: "A virtude é mais difícil de ser adquirida do que o conhecimento do mundo; e, se perdida em um homem jovem, raramente é recuperada"

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Outra historinha...do Arco da Velha

"O AMOR

“Amar alguém não é um privilégio de poucos. Da mesma forma, ser amado também não parece ser tão difícil.
Tenho conhecido muitas histórias de amor.
O comum em todas elas, antes de ser algo sempre presente, é uma coisa sempre ausente: a razão.
O amor não é e não pode ser racional. Na verdade, amar é a arte do improviso, do acontecer.
O amor não é conquista, não é vitória; é encantamento, é fato.
Não se pode esconder o mar, como não se pode esconder o amor.
Um olhar cuidadoso, um querer-bem meio egoísta e desinteressado. A suprema apoteose da antítese…”


Li essa estranha poesia num livro velho, daqueles que dão uma impressão de sabedoria. Não sei porque comprei esse livro, de capa rota e versos sem rima. Encontrei-o num sebo.
Acho que foi porque estava muito barato, ninguém queria.
Mas o que realmente me impressionou foram os dizeres manuscritos, naturalmente do antigo dono:
“Antes nunca tivesse amado.
Sempre amei alguém, e acredito mesmo sempre ter sido amado.
Algumas vezes amei e fui amado pela mesma pessoa, o que em nada diminui o meu remorso. De tantos desencontros, aprendi a amar quem me amava.
Talvez por muita coragem, ou quem sabe covardia, mantive sempre comigo aquele leve conforto que incomoda, aquela suave e acre rotina segura.
Mas agora é tarde, não mais posso me atirar à insensatez. Estou velho.
Se eu pudesse voltar, ah, quem me dera…teria hoje eu mais histórias para contar…”

Ainda lembro da expressão no rosto do dono da livraria quando escolhi o livro; um misto de surpresa e admoestação. Quando saí, meio satisfeito por ter encontrado uma pechincha, pude ouvir, ainda que baixinho, ele dizer, mais para consigo mesmo do que para mim: “cuidado…”.
Esse livro, cujo autor teve a felicidade de inspirar seu antigo dono, está bem guardado na minha última prateleira. Não foram bem as breves poesias que me marcaram, mas os comentários anotados à mão, numa caligrafia trêmula, ao final de cada peça, que mais me sensibilizaram.
Nesse caso, para mim, o autor tinha sido o antigo leitor.
Quem quer que seja, ou tenha sido, teve o cuidado de não assinar o volume. Até a dedicatória, que para meu espanto não estava endereçada ou assinada, vinha grafada com a mesma letra.
De resto, somente uma data, agosto de 1985. Abaixo, um local: sei que aconteceu em Maceió."

Janeiro de 2000.
Humberto Pimentel Costa.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Música!

Esta bela música de Alceu Valença decidiu, como que por vontade própria, tocar hoje: seleção aleatória do Ipod (quando acordei, por Nós4), rádio (no carro, pelo próprio Alceu), seleção aléatória (no pc, cantada por Nós4!) ... e, como se não bastasse, estou cantarolando-a agora, ao invés de trabalhar...
Lembrei que tenho, no carro, há uns dez anos, um cd em que a Simone canta essa música.
Assim, para tentar me livrar dela, pelo menos por hoje, vou congelar sua letra no blog.
Não recordo se o Alceu cantou essa música no show que assisti, em São Bento do Una-PE, sua terra natal, há uns vinte anos... lembro, muito bem, que cantou La Belle de Jour que, a despeito de ser uma belíssima canção, não é a mesma coisa...
ANUNCIAÇÃO

Na bruma leve das paixões que vêm de dentro

Tu vens chegando pra brincar no meu quintal

No teu cavalo peito nu cabelo ao vento

E o sol quarando nossas roupas no varal

Tu vens, tu vens

Eu já escuto os teus sinais

A voz de um anjo sussurrou no meu ouvido

E eu não duvido já escuto os teus sinais

Que tu virias numa manhã de domingo

Eu te anuncio nos sinos das catedrais

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Música!

Recomendo BLUE MONDAY, da banda NEW ORDER!


Recomendo, ainda, ouvir bem alto! Se possível, programe para ficar repetindo, indefinidamente. Foi o que fiz, enquanto tomava banho. Não é exatamente uma música que traz uma mensagem... muito menos uma música de letra feliz...., mas o rítimo é fantástico, empolgante, desafiador (ok, acho que exagerei um pouco).

Como diz uma amiga minha: "- É do tempo da Junta!", assim como eu.

É o tipo de música que parece ter sido feita para ser ouvida numa sexta-feira à tarde, pois já é quase sábado!(apesar de se chamar SEGUNDA-FEIRA AZUL!)


How does it feel to treat me like you do?
When you've laid your hands upon me
And told me who you are
I thought I was mistaken
I thought I heard your words
Tell me, how do I feel
Tell me now, How do I feel
Those who came before me
Lived through their vocations
From the past until completion
They'll turn away no more
And I still find it so hard
To say what I need to say
But I'm quite sure that you'll tell me
Just how I should feel today
I see a ship in the harbor
I can and shall obey
But if it wasn't for your misfortune
I'd be a heavenly person today
And I thought I was mistaken
And I thought I heard you speak
Tell me how do I feel
Tell me now, how should I feel
Now I stand here waiting...
I thought I told you to leave me
While I walked down to the beach
Tell me how does it feel
When your heart grows cold

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mais um conto pequeno, ou será que essa história, também, aconteceu?

O texto abaixo está prestes a completar sete anos e trata de um acontecimento supostamente ocorrido há quase doze anos, ou seja, em 1997. Sei disso, pode-se intuir, porque estive presente. Maiores detalhes são desnecessários ou, para mim, desaconselháveis. Apenas uma dica: Maravilha-Monteirópolis-Olho D'Água das Flores-Maceió e, para a surpresa de alguns: o que parece mentira é verdade, sendo mentira, o que parece verdade. Os mais próximos sabem de quase tudo.

"O EPISÓDIO DAS ABELHAS

Esta história nos pôs todos, da comissão editorial, a pensar. Ela foi enviada por um colega, que solicitou sua divulgação em nosso jornal. Sua única exigência nos pareceu bem simples: que seu nome permanecesse em sigilo.
Assim fizemos, então. A narrativa que segue é a mais fiel cópia do seu texto, de cuja responsabilidade, desde já, nos eximimos.


“Como quase todas as pessoas, já devo ter tido boas oportunidades de morrer. Na maioria delas, acredito, o meu fim, mesmo tendo roçado minha pele com seu hálito frio, por mim passou sem ser notado.
Dentre as outras, quero dizer, dentre as ocasiões em que pude ter morrido e percebi isso, nenhuma, até hoje, foi tão singular quanto o episódio das abelhas.
Aqueles que me conhecem mais de perto sabem a que acontecimento estou me referindo. Esses mesmos, aliás, sabem que não gosto de falar sobre isso.
Mas não é do caso em si, como ocorreu, que vou falar, pois para mim as circunstâncias foram traumatizantes. Minha intenção; e sou daqueles pragmáticos que acreditam que o que se escreve deve ter uma finalidade útil; é justamente compartilhar o que senti, dentro de mim, com todos os que estão na mesma situação em que me encontro agora, enquanto escrevo, ou seja, com todos os que estão vivos.
Então, senti a morte chegar.
Não se cuida de um relato em que clinicamente se ficou entre a vida e a morte, ou em que se foi dado como morto. Não vi nenhuma luz ou túnel, nem percebi que estava fora do meu corpo. Não tive contato com nenhuma entidade sobrenatural nem assisti a uma retrospectiva da minha vida até então. Apenas senti a morte chegar.
A primeira impressão foi de incredulidade. Não pensei, de início, que pudesse ser tão grave. Mas a incredulidade durou pouco, assim como pouco foi o tempo que tive para reagir. Tudo foi muito rápido, apesar de o pensamento ter podido chegar a saber o que estava acontecendo.
Uma eternidade instantânea, deste a perplexidade incomodada até a calma provocada pela aceitação da chegada do fim. Não há como fugir da evidência de que não se pode, para sempre, preservar o fio tênue que nos prende a este mundo. Foi assim comigo.
Quando aceitei o que estava se passando, mesmo ainda lutando, por instinto, senti uma alegria diferente, que até hoje me faz gelar a espinha quando lembro.
Uma espécie de satisfação, por estar próximo a descobrir o maior mistério que a todos nos envolve, misturada talvez com o alívio de deixar para trás todos os conflitos, que se revelaram pequenos, diante da nova realidade que se mostrava aos meus olhos, mesmo estando eles fechados.
Frio, calor, paz. Não necessariamente nesta ordem; não necessariamente uma coisa de cada vez.
Uma leve angústia amargou em minha boca, talvez tenha sido o arrependimento pelos meus pecados, ou a descoberta do bem que não fiz. Não importa, nunca tentei descobrir, apesar de ainda sentir seu odor, todas as noites, ou madrugadas, antes de dormir.
Meus amigos dizem que, desde então, tenho um sorriso mais fácil, como se soubesse de algo que ninguém mais sabe, mas que, por outro lado, perdi um pouco do brilho que tinha nos olhos. Procuro não pensar muito nisso.
Desde o dia em que isso aconteceu, há alguns anos, tive a idéia e a necessidade de fazer este relato. Nunca tive coragem, até agora, por medo de parecer patético e ridículo.
Agradeço, então, à comissão editorial deste periódico, pela compreensão e pela oportunidade de realizar este antigo desejo, que só se tornou possível sob a proteção do anonimato.”

Relutamos em publicar este texto, mesmo apócrifo, mais para proteger a intimidade do autor do que pela qualidade do que escreveu.
Entretanto, concordamos em divulga-lo por respeito à vontade do colega, que não exprimiu qualquer opinião que possa gerar responsabilidade para o nosso jornal, apenas contou uma história.
Pedimos desculpas a todos pelo precedente.


Humberto Pimentel Costa.
Da Comissão Editorial
Em maio de 2002."

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Poema 01

WILLIAM BLAKE

Fragmentos de Auguries of Innocence

To see a World in a Grain of Sand
And a Heaven in a Wild Flower,
Hold Infinity in the palm of your hand
And Eternity in an hour.

Traduzindo:

Para ver um mundo em um grão de areia
E um céu* em uma flor selvagem
Segures o infinito na palma da tua mão
E a eternidade em uma hora

(* Céu como sinônimo de Paraíso!)


Essa estrofe, exatamente a primeira do longo e estranho poema, não me sai da cabeça há muitos anos... nem sei mais quantos, pois parei de contar, para o bem da minha saúde mental, tudo que se relaciona a idéias recorrentes.
Quase tudo, para ser mais honesto, o que não impede que as idéias venham e voltem, como que por vontade própria.
O final do poema, a despeito de não ser absolutamente lembrado, não deixa de ser quase tão grandioso quanto o início:
Every night and every morn
Some to misery are born,
Every morn and every night
Some are born to sweet delight.

Some are born to sweet delight,
Some are born to endless night.
We are led to believe a lie
When we see not thro' the eye,
Which was born in a night to perish in a night,
When the soul slept in beams of light.

God appears, and God is light,
To those poor souls who dwell in night;
But does a human form display
To those who dwell in realms of day.

Traduzindo:

Toda noite e toda manhã
Alguns nascem para a miséria
Toda manhã e toda noite
Alguns nascem para a doce delícia

Alguns nascem para a doce delícia
Alguns nascem para a noite sem fim

Somos levados a acreditar numa mentira
Quando não vemos pelo olho
Que foi nascido numa noite para perecer numa noite
Quando a alma dorme em raios de luz

Deus aparece e Deus é luz
Para aquelas pobres almas que habitam a noite
Mas mostra uma forma humana
Àqueles que habitam os reinos do dia.
O meio do poema é muito longo e cansativo, apesar de possuir belos versos. (http://www.artofeurope.com/blake/bla3.htm). Tem palavras difíceis, o que gera aquela chateação de ter de consultar o dicionário etc.
Gostaria de compartilhar, com todos que se interessarem, a primeira estrofe, pois, no meu modesto sentir, constitui a prova da genialidade de Blake e, ainda no meu modesto e insistente sentir, uma das mais belas passagens poéticas de que tive notícia.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Diálogos 06

(Eu) - Gostou do frango marinado?

(?) - Aquela galinha atolada n'água, nem cozida, nem assada, pálida, sem gosto e meio crua por dentro? Dá pra comer...

(Eu) - E os acompanhamentos?

(?) - Um arroz sem graça, uma farofa esquisita, com umas batatas fritas (era macaxeira)... sem salada... deu pra comer...

(Eu) - Que bom que gostou!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Para refletir 01

Desconheço o autor, mas gostei do dito:

"NÃO ADIANTA CORRER QUANDO ESTAMOS NO CAMINHO ERRADO"

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Contribuição norte-americana 02 - Think about it!

Recebi, também, por e-mail.


From my friend Eric!



Will I Live to see 80? Here's something to think about.


I recently picked a new primary care doctor.


After two visits and exhaustive Lab tests, he said I was doing 'fairly well' for my age. (I just turned 60.)


A little concerned about that comment, I couldn't resist asking him, 'Do you think I'll live to be 80?'


He asked, 'Do you smoke tobacco, or drink beer or wine?'


'Oh no,' I replied.. 'I'm not doing drugs, either!'


Then he asked, 'Do you eat rib-eye steaks and barbecued ribs?


'I said, 'Not much... my former doctor said that all red meat is very unhealthy!'


'Do you spend a lot of time in the sun, like playing golf, sailing, hiking or bicycling?'


'No, I don't,' I said.


He asked,' Do you gamble, drive fast cars, or have a lot of sex?'


'No,' I said.


He looked at me and said, 'Then, why do you even give a shit?

terça-feira, 7 de abril de 2009

Outro conto pequeno ou será que aconteceu?

"MEU VIZINHO LUNÁTICO

Sua figura não chamava atenção. Não no começo. Devo dizer que nas primeiras vezes em que tive contato com ele não percebi nada de anormal. Morava no meu prédio, num dos andares mais baixos, tendo o merecido ócio da aposentadoria como a sua principal ocupação. Afora isso, nunca fiquei sabendo de muita coisa. Não era do tipo que poderia ser encontrado num banco de praça.
Chamava-se Juan Pérez, filho de uruguaios, conforme me disse certa vez.

Conduzia sua vida com austeridade. Nunca o vi com a barba por fazer, nem com as roupas ou os cabelos, estes últimos bem poucos, em desalinho. Era um cavalheiro. Magro até onde lhe permitia a saúde, tinha resquícios de fios negros e tez parda, herança pampiana que denunciava a sua origem.

Quem o ouvisse falar não poderia dizer que não era brasileiro. Articulava um Português castiço, aprendido ao longo dos anos e desenvolvido na faculdade de letras. Veio para cá muito jovem, abandonando todos os laços com a terra natal. Teve como profissão o ensino da nossa literatura. Chegou a me dizer, por detrás daquelas lentes espessas, que era uma honra viver na terra de Graciliano Ramos.

Mas ocorre que Juan Pérez enlouqueceu, assim me disseram. Primeiro o porteiro, depois o médico do 1202. Em pouco tempo não havia dúvidas quanto a isso. O diagnóstico do condomínio foi categórico, não sujeito a recurso. Meu vizinho uruguaio estava condenado à indiferença ou, quando muito, ao ridículo.

Não quis saber dos fatos que motivaram aquela conclusão, apesar de mais de uma vez ter sido interpelado por pessoas que, ao perceberem o meu alheamento acerca do caso, estavam dispostas a me pôr à par do assunto. Nunca quis ouvir. Devo ter agido assim em respeito a Juan, que compartilhava comigo o gosto por Machado de Assis.

Nos encontramos um dia no elevador, eu voltando do trabalho e ele com um pacote embaixo do braço. Na outra mão ele segurava um inútil guarda-chuva, considerando o verão que nos castigava. Eu não levava nada além da minha pasta e do meu estômago vazio. É essa a história que quero contar.

Juan olhou fixamente para mim e perguntou, sem cerimônia, o que eu mais queria na vida. Dei um sorriso como resposta e disse em seguida que, como todo mundo, queria apenas tranqüilidade. Depois disso não falei mais nada, até que o recíproco boa noite nos separou.

Entretanto, antes da nossa despedida, ele se dirigiu a mim seriamente:

- Não pense que você vai encontrar tranqüilidade numa casa confortável ou numa vida sem dívidas. Depois que resolver seus problemas materiais, quando estiver onde quer estar, quando viver como quer viver, e espero que consiga tudo isso, então estará diante do mais importante: será que você fez da vida o que queria?

Permaneci calado. Ele prosseguiu, segurando a porta do elevador:

- Não trocaria a sua juventude pela minha experiência, mas daria tudo para ter o tempo que você ainda tem. Se existe um conselho que poderia lhe dar, mesmo sem ter sido demandado – Juan gostava de palavras e construções difíceis – diria que aproveitasse o seu tempo desenvolvendo o que há de humano em você. Tudo passa. Um dia estará, como eu estou agora, diante do mais severo dos julgadores, a sua própria consciência.

Talvez eu nem precisasse dizer que cheguei em casa sem fome. Sempre fui muito susceptível. Meu sono também foi perturbado por aquelas palavras do uruguaio. Na manhã seguinte, logrei encontrar algum sentido no que ele dissera, mas tinha muitas perguntas a fazer. Ocorre que já era tarde.

Juan Pérez, meu vizinho uruguaio, por todos considerado lunático, havia se mudado naquele mesmo dia. Ninguém sabia como encontrá-lo. Tenho certeza que, se perguntasse muito por ele, acabaria desfrutando do seu status no prédio.

Para mim ele não era louco. Lamentei não poder ter conversado mais sobre o assunto do nosso último encontro. Ainda tenho comigo um livro que ele me emprestou: História da eternidade, de Jorge Luis Borges, que, aliás, nunca consegui entender."



Humberto Pimentel Costa.
Em maio de 2003.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Postagem serôdia

Vejam a postagem extemporaneamente antedatada (ok, pleonasmo!), abaixo das fotos!
Cuida-se de capricho, pois quis usar a data 04 de abril!

domingo, 5 de abril de 2009

Farra 02!


Esta foto ficou melhor, desconsidere a outra!

Farra!


Bosco, ladeado pelos aniversariantes de 04 de abril, Pedro e eu!

Ainda tentei esconder a garrafa!

sábado, 4 de abril de 2009

Aniversário!

Esta é a minha postagem de aniversário.

Do meu aniversário, diga-se de passagem, que ocorreu no dia 04 de abril. O aniversário do Pedro, fato público e notório, também aconteceu no mesmo dia, coincidência que vem se repetindo ano a ano, tendo como consequência um inevitável aumento da nossa amizade.

Não escrevi antes porque achei que seria melhor escrever no próprio dia (deveria ter escrito antes!).

Chegado o dia, não é difícil entender, o tempo foi escasso e não tive condições de escrever nada. Lembrei do ditado outrora apresentado pelo Wlad, cuja origem, não a ocasião em que foi empregado, agora me escapa: "Antes da hora, não é hora; depois da hora, não é hora; a hora é na hora certa!". Quem foi mesmo que disse isso, Wlad?

Pois bem. A hora é na hora, mas, na hora, não pude. Fazer o quê?

Não obstante, valendo-me da comodidade oferecida pelo blog, posso agora, dia 06 de abril, escrever e postar com data de 04 de abril.
Mas então por que, pelo menos, não escrevi no dia 05 de abril, considerando ser essa data mais próxima do dia 04 e, ainda por cima, ser um domingo, podendo ser usada a desculpa de que deixei a postagem para o "domingo à noite"?

Bem, digamos que as comemorações foram um tanto quanto cansativas... Malbec (premium) no jantar, caipiroskas (quantas mesmo, Pedro?) e long-necks (no plural).

Engraçado que o Bosco, também, achou que o show da banda Nós4, no Maikai, não durou mais do que uns dez minutos. O tempo é mesmo relativo, não é verdade? Poderia jurar que durou cerca de 15 minutos! Parece que foi bom mesmo... acho que o vocalista cantou mais (pois quem sempre cantava mais era a moça, assim me disseram...) deixa pra lá...

Ok!?

Há muito sou dado à taxonomia ou taxionomia (técnica de classificação - mas pode chamar de taxo ou taxio MANIA mesmo), inclinação científica que não me tem dado grandes resultados práticos, afora algum divertimento com amigos. E o que é o bom da vida, senão alguns momentos leves e descontraídos, com as pessoas de quem gostamos?

Em um desses arroubos taxológicos (ou taxomânicos, se preferir) que invariavelmente ocorrem durante o banho, quando caminho pela orla, quando estou dirigindo ou em alguma fila, veio-me à baila, sem qualquer esforço, a classificação etária que uso até hoje, nos seguintes termos:

1 - Criança: até 12 anos;

2 - Adolescente: de 12 a 25 anos;

3 - Jovem-adulto: 25 a 35 anos;

4 - Adulto-pleno: 35 a 50 anos;

5 - Adulto-maduro: 50 a 70 anos;
6 - Adulto-ultra-maduro: mais de 70 anos.

Sei que muita gente não concorda com essa classificação, pois não tem base legal ou acadêmica, sendo um arranjo absolutamente arbitrário da minha parte.

Não precisaria declinar as minhas razões, mas adianto que cheguei a esse esquema a partir de considerações filosóficas e constatações empíricas. De qualquer forma, ainda que não sirva para mais ninguém, serve muito bem para mim e isso, no final das contas, é o que me importa.

Lembrei dessa divisão por força do meu aniversário. Acabo de completar, nada mais, nada menos, que 36 anos. É verdade, o tempo passou rápido.

Sobre a sensação de rápida passagem do tempo, que também tem assolado outras pessoas, prometo publicar uma reflexão específica, posteriormente.
Quero, em verdade, falar do momento em que estou vivendo.
Ao completar 36 anos, dei-me conta de duas coisas: primeiro, sou um adulto-pleno; segundo, sou um adulto-pleno há um ano! Essas constatações, a despeito de serem muito simples, geraram alguma surpresa em mim, pois, como muitas outras pessoas, não senti o tempo passar e, não poucas vezes, cheguei a me assustar com a minha própria imagem no espelho.

Mas esse não é o problema (tudo bem, outro dia escrevo sobre a história da imagem no espelho). O que me aflige, confesso publicamente sem pudor, é a consciência de não ter me comportado, durante todo o ano que se passou (04.04.08 a 04.04.09), nos termos e em conformidade com o que seria exigível de um adulto-pleno!

Agora não tenho mais como fugir.

Sou levado a acreditar que, como eu tinha 35 anos, inconscientemente, adotei uma interpretação mais benéfica e, sem o querer, juro, estendi (indevidamente, diga-se de passagem) por mais um ano, minha temporada já finda como jovem-adulto. Espero contar com a compreensão de todos e com os benefícios da confissão espontânea...

Isso mesmo, como diz o famoso comentarista desportivo, a regra é clara! Jovem-adulto: 25 a 35 anos! Ou seja, qualquer nefelibata pode concluir que, ao se completar 35 anos, muda-se de faixa etária. Mas eu, agora vejo, não agi assim, razão da exposição desta mea maxima culpa.

Dessa forma, com exatamente um ano de atraso, declaro o reconhecimento do meu irreversível ingresso na era de "adulto-pleno", prometendo agir em conformidade com os ditames que regem essa faixa etária.
Desejando que ainda não seja tarde demais, peço mil desculpas, com a ênfase necessária, por todos os meus atos incompatíveis, praticados durante esse período nebuloso.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Convite eletrônico


Caros amigos, acabo de receber o modelo do convite eletrônico, para o lançamento do meu livro!

Devo enviá-lo, por e-mail, a partir do dia 22 de abril. Conto com a colaboração de todos, em um efeito multiplicador, que será solicitado quando da remessa.

A versão impressa, um pouco distinta, pois terá verso e anverso, deve chegar a Maceió na próxima semana, conforme me foi prometido.

Adianto, abaixo, os dados relevantes:


DIA: 08 de maio de 2009 (sexta-feira)

HORÁRIO: das 17:00 às 20:00 horas

LOCAL: Espaço Nossa Livraria (Av. Moreira e Silva, 430, defronte a Embratel)
Obs.: Amplo estacionamento (na própria Nossa Livraria e, do outro lado da pista, no enorme estacionamento gratuito)