"O AMOR
“Amar alguém não é um privilégio de poucos. Da mesma forma, ser amado também não parece ser tão difícil.
Tenho conhecido muitas histórias de amor.
O comum em todas elas, antes de ser algo sempre presente, é uma coisa sempre ausente: a razão.
O amor não é e não pode ser racional. Na verdade, amar é a arte do improviso, do acontecer.
O amor não é conquista, não é vitória; é encantamento, é fato.
Não se pode esconder o mar, como não se pode esconder o amor.
Um olhar cuidadoso, um querer-bem meio egoísta e desinteressado. A suprema apoteose da antítese…”
Li essa estranha poesia num livro velho, daqueles que dão uma impressão de sabedoria. Não sei porque comprei esse livro, de capa rota e versos sem rima. Encontrei-o num sebo.
Acho que foi porque estava muito barato, ninguém queria.
Mas o que realmente me impressionou foram os dizeres manuscritos, naturalmente do antigo dono:
“Antes nunca tivesse amado.
Sempre amei alguém, e acredito mesmo sempre ter sido amado.
Algumas vezes amei e fui amado pela mesma pessoa, o que em nada diminui o meu remorso. De tantos desencontros, aprendi a amar quem me amava.
Talvez por muita coragem, ou quem sabe covardia, mantive sempre comigo aquele leve conforto que incomoda, aquela suave e acre rotina segura.
Mas agora é tarde, não mais posso me atirar à insensatez. Estou velho.
Se eu pudesse voltar, ah, quem me dera…teria hoje eu mais histórias para contar…”
Ainda lembro da expressão no rosto do dono da livraria quando escolhi o livro; um misto de surpresa e admoestação. Quando saí, meio satisfeito por ter encontrado uma pechincha, pude ouvir, ainda que baixinho, ele dizer, mais para consigo mesmo do que para mim: “cuidado…”.
Esse livro, cujo autor teve a felicidade de inspirar seu antigo dono, está bem guardado na minha última prateleira. Não foram bem as breves poesias que me marcaram, mas os comentários anotados à mão, numa caligrafia trêmula, ao final de cada peça, que mais me sensibilizaram.
Nesse caso, para mim, o autor tinha sido o antigo leitor.
Quem quer que seja, ou tenha sido, teve o cuidado de não assinar o volume. Até a dedicatória, que para meu espanto não estava endereçada ou assinada, vinha grafada com a mesma letra.
De resto, somente uma data, agosto de 1985. Abaixo, um local: sei que aconteceu em Maceió."
Janeiro de 2000.
Humberto Pimentel Costa.
“Amar alguém não é um privilégio de poucos. Da mesma forma, ser amado também não parece ser tão difícil.
Tenho conhecido muitas histórias de amor.
O comum em todas elas, antes de ser algo sempre presente, é uma coisa sempre ausente: a razão.
O amor não é e não pode ser racional. Na verdade, amar é a arte do improviso, do acontecer.
O amor não é conquista, não é vitória; é encantamento, é fato.
Não se pode esconder o mar, como não se pode esconder o amor.
Um olhar cuidadoso, um querer-bem meio egoísta e desinteressado. A suprema apoteose da antítese…”
Li essa estranha poesia num livro velho, daqueles que dão uma impressão de sabedoria. Não sei porque comprei esse livro, de capa rota e versos sem rima. Encontrei-o num sebo.
Acho que foi porque estava muito barato, ninguém queria.
Mas o que realmente me impressionou foram os dizeres manuscritos, naturalmente do antigo dono:
“Antes nunca tivesse amado.
Sempre amei alguém, e acredito mesmo sempre ter sido amado.
Algumas vezes amei e fui amado pela mesma pessoa, o que em nada diminui o meu remorso. De tantos desencontros, aprendi a amar quem me amava.
Talvez por muita coragem, ou quem sabe covardia, mantive sempre comigo aquele leve conforto que incomoda, aquela suave e acre rotina segura.
Mas agora é tarde, não mais posso me atirar à insensatez. Estou velho.
Se eu pudesse voltar, ah, quem me dera…teria hoje eu mais histórias para contar…”
Ainda lembro da expressão no rosto do dono da livraria quando escolhi o livro; um misto de surpresa e admoestação. Quando saí, meio satisfeito por ter encontrado uma pechincha, pude ouvir, ainda que baixinho, ele dizer, mais para consigo mesmo do que para mim: “cuidado…”.
Esse livro, cujo autor teve a felicidade de inspirar seu antigo dono, está bem guardado na minha última prateleira. Não foram bem as breves poesias que me marcaram, mas os comentários anotados à mão, numa caligrafia trêmula, ao final de cada peça, que mais me sensibilizaram.
Nesse caso, para mim, o autor tinha sido o antigo leitor.
Quem quer que seja, ou tenha sido, teve o cuidado de não assinar o volume. Até a dedicatória, que para meu espanto não estava endereçada ou assinada, vinha grafada com a mesma letra.
De resto, somente uma data, agosto de 1985. Abaixo, um local: sei que aconteceu em Maceió."
Janeiro de 2000.
Humberto Pimentel Costa.
Olá meu filho,
ResponderExcluirsuas historias são muito interessantes,dá gosto de ler,é muito bom acessar seu blog para encontrar essas preciosidades...,seu livro está sensacional!!!!!!!!beijos da mamãe.
Que lindo...
ResponderExcluirAmar é a melhor coisa do mundo mesmo, seja amor correspondido ou não!! Só discordo do autor qnd ele acha que já é tarde para se atirar a insensatez do amor... Bjooo, Carlinha.
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