sexta-feira, 24 de abril de 2009

Outra historinha...do Arco da Velha

"O AMOR

“Amar alguém não é um privilégio de poucos. Da mesma forma, ser amado também não parece ser tão difícil.
Tenho conhecido muitas histórias de amor.
O comum em todas elas, antes de ser algo sempre presente, é uma coisa sempre ausente: a razão.
O amor não é e não pode ser racional. Na verdade, amar é a arte do improviso, do acontecer.
O amor não é conquista, não é vitória; é encantamento, é fato.
Não se pode esconder o mar, como não se pode esconder o amor.
Um olhar cuidadoso, um querer-bem meio egoísta e desinteressado. A suprema apoteose da antítese…”


Li essa estranha poesia num livro velho, daqueles que dão uma impressão de sabedoria. Não sei porque comprei esse livro, de capa rota e versos sem rima. Encontrei-o num sebo.
Acho que foi porque estava muito barato, ninguém queria.
Mas o que realmente me impressionou foram os dizeres manuscritos, naturalmente do antigo dono:
“Antes nunca tivesse amado.
Sempre amei alguém, e acredito mesmo sempre ter sido amado.
Algumas vezes amei e fui amado pela mesma pessoa, o que em nada diminui o meu remorso. De tantos desencontros, aprendi a amar quem me amava.
Talvez por muita coragem, ou quem sabe covardia, mantive sempre comigo aquele leve conforto que incomoda, aquela suave e acre rotina segura.
Mas agora é tarde, não mais posso me atirar à insensatez. Estou velho.
Se eu pudesse voltar, ah, quem me dera…teria hoje eu mais histórias para contar…”

Ainda lembro da expressão no rosto do dono da livraria quando escolhi o livro; um misto de surpresa e admoestação. Quando saí, meio satisfeito por ter encontrado uma pechincha, pude ouvir, ainda que baixinho, ele dizer, mais para consigo mesmo do que para mim: “cuidado…”.
Esse livro, cujo autor teve a felicidade de inspirar seu antigo dono, está bem guardado na minha última prateleira. Não foram bem as breves poesias que me marcaram, mas os comentários anotados à mão, numa caligrafia trêmula, ao final de cada peça, que mais me sensibilizaram.
Nesse caso, para mim, o autor tinha sido o antigo leitor.
Quem quer que seja, ou tenha sido, teve o cuidado de não assinar o volume. Até a dedicatória, que para meu espanto não estava endereçada ou assinada, vinha grafada com a mesma letra.
De resto, somente uma data, agosto de 1985. Abaixo, um local: sei que aconteceu em Maceió."

Janeiro de 2000.
Humberto Pimentel Costa.

3 comentários:

  1. Olá meu filho,
    suas historias são muito interessantes,dá gosto de ler,é muito bom acessar seu blog para encontrar essas preciosidades...,seu livro está sensacional!!!!!!!!beijos da mamãe.

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  2. Amar é a melhor coisa do mundo mesmo, seja amor correspondido ou não!! Só discordo do autor qnd ele acha que já é tarde para se atirar a insensatez do amor... Bjooo, Carlinha.

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Muito obrigado pelo comentário!