quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mais um conto pequeno, ou será que essa história, também, aconteceu?

O texto abaixo está prestes a completar sete anos e trata de um acontecimento supostamente ocorrido há quase doze anos, ou seja, em 1997. Sei disso, pode-se intuir, porque estive presente. Maiores detalhes são desnecessários ou, para mim, desaconselháveis. Apenas uma dica: Maravilha-Monteirópolis-Olho D'Água das Flores-Maceió e, para a surpresa de alguns: o que parece mentira é verdade, sendo mentira, o que parece verdade. Os mais próximos sabem de quase tudo.

"O EPISÓDIO DAS ABELHAS

Esta história nos pôs todos, da comissão editorial, a pensar. Ela foi enviada por um colega, que solicitou sua divulgação em nosso jornal. Sua única exigência nos pareceu bem simples: que seu nome permanecesse em sigilo.
Assim fizemos, então. A narrativa que segue é a mais fiel cópia do seu texto, de cuja responsabilidade, desde já, nos eximimos.


“Como quase todas as pessoas, já devo ter tido boas oportunidades de morrer. Na maioria delas, acredito, o meu fim, mesmo tendo roçado minha pele com seu hálito frio, por mim passou sem ser notado.
Dentre as outras, quero dizer, dentre as ocasiões em que pude ter morrido e percebi isso, nenhuma, até hoje, foi tão singular quanto o episódio das abelhas.
Aqueles que me conhecem mais de perto sabem a que acontecimento estou me referindo. Esses mesmos, aliás, sabem que não gosto de falar sobre isso.
Mas não é do caso em si, como ocorreu, que vou falar, pois para mim as circunstâncias foram traumatizantes. Minha intenção; e sou daqueles pragmáticos que acreditam que o que se escreve deve ter uma finalidade útil; é justamente compartilhar o que senti, dentro de mim, com todos os que estão na mesma situação em que me encontro agora, enquanto escrevo, ou seja, com todos os que estão vivos.
Então, senti a morte chegar.
Não se cuida de um relato em que clinicamente se ficou entre a vida e a morte, ou em que se foi dado como morto. Não vi nenhuma luz ou túnel, nem percebi que estava fora do meu corpo. Não tive contato com nenhuma entidade sobrenatural nem assisti a uma retrospectiva da minha vida até então. Apenas senti a morte chegar.
A primeira impressão foi de incredulidade. Não pensei, de início, que pudesse ser tão grave. Mas a incredulidade durou pouco, assim como pouco foi o tempo que tive para reagir. Tudo foi muito rápido, apesar de o pensamento ter podido chegar a saber o que estava acontecendo.
Uma eternidade instantânea, deste a perplexidade incomodada até a calma provocada pela aceitação da chegada do fim. Não há como fugir da evidência de que não se pode, para sempre, preservar o fio tênue que nos prende a este mundo. Foi assim comigo.
Quando aceitei o que estava se passando, mesmo ainda lutando, por instinto, senti uma alegria diferente, que até hoje me faz gelar a espinha quando lembro.
Uma espécie de satisfação, por estar próximo a descobrir o maior mistério que a todos nos envolve, misturada talvez com o alívio de deixar para trás todos os conflitos, que se revelaram pequenos, diante da nova realidade que se mostrava aos meus olhos, mesmo estando eles fechados.
Frio, calor, paz. Não necessariamente nesta ordem; não necessariamente uma coisa de cada vez.
Uma leve angústia amargou em minha boca, talvez tenha sido o arrependimento pelos meus pecados, ou a descoberta do bem que não fiz. Não importa, nunca tentei descobrir, apesar de ainda sentir seu odor, todas as noites, ou madrugadas, antes de dormir.
Meus amigos dizem que, desde então, tenho um sorriso mais fácil, como se soubesse de algo que ninguém mais sabe, mas que, por outro lado, perdi um pouco do brilho que tinha nos olhos. Procuro não pensar muito nisso.
Desde o dia em que isso aconteceu, há alguns anos, tive a idéia e a necessidade de fazer este relato. Nunca tive coragem, até agora, por medo de parecer patético e ridículo.
Agradeço, então, à comissão editorial deste periódico, pela compreensão e pela oportunidade de realizar este antigo desejo, que só se tornou possível sob a proteção do anonimato.”

Relutamos em publicar este texto, mesmo apócrifo, mais para proteger a intimidade do autor do que pela qualidade do que escreveu.
Entretanto, concordamos em divulga-lo por respeito à vontade do colega, que não exprimiu qualquer opinião que possa gerar responsabilidade para o nosso jornal, apenas contou uma história.
Pedimos desculpas a todos pelo precedente.


Humberto Pimentel Costa.
Da Comissão Editorial
Em maio de 2002."

4 comentários:

  1. Muuuuuuuito bom!!! Parabéns mesmo!
    Para mim, seu melhor conto!!
    Bjoo, Carlinha.

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  2. Agora eu fiquei curioso para saber como o foi tal episódio das abelhas.

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  3. Eu conheço alguém que contou mais de 150 picadas de abelhas do narrador quase-morto. Muitas delas - dezenas - no couro cabeludo...BZZZZZ BZZZZZZ BZZZZZ!!!

    Adorei a narrativa! Poucos, apenas aluns mesmo, saberão se é verdade ou não! Beijos da irmã.

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  4. Eu conheço esse episódio ...
    Mas, para quem já viu o TAZ essas abelhinhas são contos de fada !!
    Vai ter algum de fada e duende ? hihihi
    Bosco

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Muito obrigado pelo comentário!