quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FELIZ ANO NOVO! Que 2010 seja melhor do que 2009 e quase tão bom quanto 2011!

Apesar de não ser domingo, hoje me pareceu um dia propício para escrever no blog. Por falar em domingo, constato uma ironia: talvez "domingo" tenha sido o dia da semana em que menos postei.
Ontem fui instado a colocar algo no blog pelo Bosco, com a delicadeza que lhe é inerente. Abstraindo-se do texto literal, não por censura, antes por pendor estético, podria assim traduzir sua assertiva: "- Já que você não está trabalhando, vê se escreve alguma coisa no blog!". Isso foi um eufemismo, podem acreditar!
Como o início de um novo ano traz a idéia de renovação, com o estabelecimento de novos projetos e fixação de objetivos e metas, penso que seria adequado, mais do que simplesmente desejar sucesso, sorte e felicidade, trazer alguns conselhos.
Pois bem, para fugir um pouco dos lugares-comuns e clichês, aos quais há muito sou afeito e entusiasta, decidi trazer alguns ensinamentos de origem mulçumana, colhidos da histórica tradição oral árabe e cristalizados numa das mais belas obras literárias jamais produzidas: As mil e uma noites.
Eis o contexto: A história de Nuredin Ali e de Bedredin Hassan - 95ª Noite.
Nuredin Ali está moribundo. Prestes a expirar, recobra as forças e aconselha a seu filho, Bedredin Hassan:


"Meu filho, a primeira máxima que quero ensinar-te é a de te não abrires com qualquer pessoa. O meio de viveres em segurança é entregares-te a ti mesmo, e não te comunicares facilmente.


A segunda é não fazeres violência contra quem quer que seja, pois neste caso todos se voltarão contra ti; considera o mundo um credor a quem deves moderação, compaixão e tolerância.


A terceira é não dizeres nada, quando te cobrirem de injúrias. Estamos fora de perigo, diz o provérbio, quando nos calamos. É particularmente nessa ocasião que deves calar-te. Sabes também que, sobre esse ponto, um dos nossos poetas afirma que o silêncio é o ornamento e a salvaguarda da vida, e que é preciso, ao falar, não assemelhar-se à tempestade que a tudo destrói. Nunca se viu ninguém arrependido por ter-se calado, ao passo que são muitos os que se arrependem de ter falado.


A quarta é não beberes vinho, fonte de todos os vícios.


A quinta é cuidares bem dos teus bens; se não os dissipares, servir-te-ão na necessidade. Não convém, todavia, possuir muitos, tampouco ser avarento; por poucos que sejam teus bens, se os usares bem, terás muitos amigos; mas, se, pelo contrário, tiveres grandes riquezas, e mal usadas, todos se afastarão de ti e te abandonarão."


Para nós, ocidentais que sofremos pouca influência da cultura árabe, esses ensinamentos trazem um sabor algo exótico e curioso, tendo sido exatamente essa a sensação que eu queria provocar no amigo e paciente leitor, neste que é o último dia de 2009!


Desejo a todos um FELIZ ANO NOVO e que, em 2010, possamos por em prática, com exceção do 4º, todos os demais conselhos deixados por Nuredin Ali, Grão-Vizir de Bassorá.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

RafaCartoon 02


Biofuel Station
Somewhere in the Planet, there is someone experimenting a new alternative fuel

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Diálogos 17

Em homenagem à aniversariante de hoje, minha mãe!

(Mãe) - Não esqueça do livro da Hannah!
(Eu) - Que livro...?
(Mãe) - O seu livro, O relato de Hannah, que vou levar para o Dr. Fulano de Tal... lembra?
...

Para quem não entendeu, sugiro observar as fotos na borda direita deste blog...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

RafaCartoon 01

LONG DISTANCE LOVE
The lover's perception always tops reality




Sempre que começo a escrever no blog, sinto vontade de me desculpar por não estar postando regularmente. O mais interessante é que, do mesmo modo, já a partir da segunda linha, anseio escrever mais e sempre. Deve existir uma denominação específica para essa "síndrome". Claro que há outros sintomas, mas não seria o caso de aborrecer o indulgente leitor com pequenices. Aliás, agradeço e admiro a paciência de quem terminou de ler este primeiro parágrafo.
O fato é que, ninharias à parte, tenho recebido algumas provocações de amigos (no bom sentido). Sendo assim e talvez por ser véspera de feriado, decidi remover as teias de aranha e colocar algo novo.
Conheci, esta semana, o site do meu caríssimo primo Rafael, para quem os elogios nunca serão demasiados. Sua notória lhanesa é divulgada por tantos quantos o conhecem, assim como sua refinada inteligência pode ser percebida, por exemplo e dentre outras manifestações, em seus cartuns.
Publicarei, vez por outra e com sua prévia autorização, algumas das criações do Rafa, que assina "Lopes" (talvez eu devesse ter escolhido o título LopesCartoon...).
Para conhecer outros desenhos do Rafa: http://rafaelpimentellopes.weebly.com/index.html

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Boa pergunta 01

"Por que desenvolver em quinhentas páginas uma idéia cuja perfeita exposição oral demoraria alguns minutos?"
J. L. Borges

Fonte: Blog Panorama, de Pedro Luso de Carvalho.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Música!

Minha curiosidade acerca dos Rolling Stones nasceu a partir da influência do meu amigo Giovani Ventura, que também me fez gostar do U2, ainda na faculdade, no início da década de 1990.
A música abaixo, uma das minhas favoritas, tocou hoje aleatoriamente, trazendo boas recordações.
ANGIE
Keith Richards


Angie, Angie, when will those clouds all disappear
Angie, Angie, where will it lead us from here
With no loving in our souls and no money in our coats
You can't say we're satisfied
But Angie, Angie, you can't say we never tried.

Angie, you're beautiful, but ain't it time we said goodbye
Angie, I still love you, remember all those nights we cried
All the dreams we held so close seemed to all go up in smoke
Let me whisper in your ear
Angie, Angie, where will it lead us from here
Oh, Angie, don't you weep, all your kisses still taste sweet
I hate that sadness in your eyes
But Angie, Angie, ain't it time we say good-bye

With no loving in our souls and no money in our coats
You can't say we're satisfied
But Angie, I still love you, Baby, ev'rywhere I look I see your eyes
There ain't a woman that comes close to you
come on baby, dry your eyes

But Angie, Angie, ain't it good to be alive
Angie, Angie, they can't say we never tried

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Domingo, ainda...

Hoje parece domingo, mas não é. Uma segunda-feira com cara de domingo, ou será que tivemos dois sábados?
A semana ficou curta e, a depender do ponto de vista, isso pode ser bom ou ruim. A propósito, muitas coisas são assim, boas ou más, conforme nossa interpretação.
Eis que me deparo com essas inclinações filosóficas.
Melhor parar por aqui.
Como é hora de pensar em voltar aos dias brancos, trago um oportuno poema de

MÁRIO QUINTANA


Ah! Os Relógios


Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mário Quintana

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Nostalgia

Há duas semanas, voltando de Caruaru com uns amigos, vimos a placa que indicava a entrada para o município pernambucano de Altinho. Lembramos de Jorge de Altinho, claro, e dessa bela música.
Pena que não tenho mais o cd...


FAZENDA SANTO ANTONIO
Jorge de Altinho

Quando eu era menino vi do céu um pedacinho
A fazenda Santo Antonio do meu velho tio Pedrinho
Felicidade infinita, era a jóia mais bonita do município de Altinho

A casa sede era grande de alpendre arrodeada
Um quarto pra guardar sela, a rede toda trançada
Encostado com a cozinha uma casa de farinha
Pra se fazer farinhada

Quatro horas da manhã para o curral eu corria
Leite do peito da vaca traz saúde e energia
Tinha vaca que respeite
Tio Emídio levava o leite pra cidade todo dia

Na mesa tinha de tudo, cuscuz com leite e coalhada
Queijo de coalho na brasa, carne de sol bem assada,
Bolo de milho com coco, tinha costela de porco
Macaxeira cozinhada

Na beira do rio Una tinha cortiços de mel,
Inhame, batata doce, laranja mimo do céu,
A banana prata e o pão, os pés de coqueiro anão
Agua doce feito mel.

Santo Antônio mudou de dono, veio a modernização
Derrubaram a casa sede, a cocheira e o galpão
A tristeza me invade, quem já foi felicidade
Hoje é só recordação

Tio Pedrinho não vive mais, nem tia Auta também
Foram morar com Jesus na fazenda do além
A lembrança hoje é um sonho, quando vejo Santo Antonio
Sinto que morri também

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Primavera!

Título: Pé-de-pau
Foto de Bosco Ribas - Jatúca - Maceió - Alagoas

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Crítica literária

Foi com grande satisfação e surpresa que hoje li um criterioso comentário acerca do Relato de Nanna.
Apesar de postado em 11 de julho de 2009, apenas agora tomei conhecimento das considerações tecidas pelo amigo Sérgio Coutinho.
Mais uma vez: Muito obrigado, Sérgio, pelo interesse em conhecer a obra.
Abaixo, o link...
http://mundoemmovimentos.blogspot.com/2009/07/sobre-o-relato-de-nanna.html

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Diálogos - 16

(X) - Seu livro é sobre o quê?

(Eu) - É um romance.

(X) - Ah... uma história de amor!

(Eu) - ... ai, ai! (em pensamento)




Um romance não é, necessariamente, uma história de amor.
Uma história de amor não é, necessariamente, um romance.


Um romance seria, digamos, uma obra longa (ou não-curta) de ficção. Longa no sentido de ser maior do que um conto.
Uma história com até 50 páginas pode ser considerada um conto, mas essa divisão não é muito precisa. A verdade é que não há parâmetros fixos ou legais, apenas acadêmicos.
Há muitos anos, quando conversava com um amigo, disse-lhe que gostaria de cursar Letras, para aprimorar a minha técnica e obter mais conhecimentos, tudo com o intuito de escrever melhor. Eu tinha essa pretensão, ou melhor, essa ilusão.
Meu amigo fez-me ver que o essencial, na arte literária, não seria o academicismo. Muito pelo contrário. Conhecer as definições, as opiniões, as técnicas, por vezes, pode até atrapalhar. Segundo ele, cujos ensinamentos guardo como verdadeiro tesouro, o importante seria ler outras obras, sempre que possível, e escrever muito. Em sua opinião, ainda, o brilho literário de um escritor criativo e sem parâmetros técnicos seria muito mais apreciado do que a arte parnasiana de um seguidor de manuais.
Não estou criticando o curso de Letras, por favor. Eu mesmo o segui por um ano. Até hoje sinto saudade e, vez por outra, penso em voltar. Talvez um dia volte, quem sabe...
Além disso, tenho muitos amigos formados em Letras. Admiro-os e admiro o curso.
O que estou tentando dizer é que, para ser um bom escritor, não é necessário cursar Letras. Não me interpretem mal.
Convenções e consensos literários à parte, o problema de se confundir um romance com uma história de amor não há na Língua Inglesa: conto (short story), romance (novel). Fica bem mais fácil assim, não é?

...

(X, Y, Z etc.) - Quem é Nanna?

(Eu) - Só falo sobre o livro com quem o leu...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Texto - Mais uma contribuição do amigo Isaac Sandes


O CANALHA



Na galeria de tipos humanos, o canalha certamente tem seu lugar de destaque.
Não confunda o canalha com o mau caráter. O mau caráter é um tipo asqueroso; covarde; traiçoeiro e sem o menor glamour. Identificado, o mau caráter é prontamente escorraçado de qualquer meio, sem que tenha, em seu favor, manifestação embrionária de defesa. Nem que seja de um bom Samaritano.
Enquanto o verdadeiro e caricato canalha…!!! Esse não !
O autêntico e secular canalha é dotado de um glamour e um charme que faz com que, seus atos, mesmo condenáveis à primeira vista, sejam, após prudente distanciamento, reavaliados com um certo ”que “ de romantismo canastrão.
Os contumazes frequentadores dos outrora românticos bordéis, sabem do que estou falando. Lá, os verdadeiros canalhas sempre foram os seres mais destacados e paparicados pelas literais animadoras da torcida.
O canalha de bordél, se sentia num à vontade difícil de descrever por um escrito puritano. Ele desfilava no puteiro, como se fosse um sargento linha dura passando em revista um pelotão de borrrados recrutas. Olhar altivo; queixo levantado; peito estufado num Passo de Ganso. Parecia um Duce.
Lá ele sempre foi alvo dos mais elevados encômios e destinatário de respeito reverencial. Até dos mais antigos frequentadores. O canalha dominante do Bordel era o pavor dos semi desvirginados adolescentes que, saídos do seu rito de passagem, vagueavam, ainda, inseguros e temerosos em território que era todo do canalha.
O canalha do qual estou falando é aquele que empresta um colorido especial ao monótono tecido social.
Quem viveu a infância num cidadezinha de interior, sabe que o canalha local é aquele que fornece o combustível para as rodas de fofocas que se formam à noite nas pracinhas, bem como fornece matéria prima para o linguarudo barbeiro.
Qual cidade de interior não possui os seus canalhas de estimação ?
São eles representados pelas mais diversas subespécies:
É o velhaco contumaz; o dono da venda que todos sabem ser o mais descarado ladrão, no preço e no peso; o agiota que posa de moço bom, frequentando e participando de todos os eventos da paróquia; é aquele corno desentendido, que faz questão de contar as qualidades empreendedoras da esposa; o camelô trambiqueiro vendendo óleo de Peixe-Boi nas feiras; o Padre que, na baixa, come a recatada beata; o vizinho que, respeitosamente, vive chifrando seu mais estimado cumpadre; o mentiroso folclórico; a velha e vigarista macumbeira que promete resolver qualquer problema de amor não correspondido, afastar olhos cobiçosos e promover a cura daquele irrecuperável broxa.
Enfim! Tais tipos, são Pedros Malazartes materializados diante de nossos olhos.
Todos nós sabemos quanto carregam de canalhice no seu DNA, mas se extirpados do contexto social, o nosso cotidiano se tornará tão insosso quanto uma refeição de hospital.
O canalha é um ser autêntico, é o homem em estado bruto . É um representante da humanidade sem os arreios éticos e morais. Se a embriaguês é a mão que levanta o manto e revela o canalha que existe por baixo de cada envernizado cidadão, como bem expôs nosso cronista. Ao canalha tal recurso é desnecessário, pois ele é o que é em si mesmo.
Toda inteligente e sábia comunidade, sabe amar respeitar e conviver pacificamente com seus canalhas. Sabe que, na maioria das vezes, os males causados pelos canalhas são de pequeno potencial ofensivo e que tais atos, tolerados, renderão ao coletivo vasto material que alimentará as futuras lendas, desencadeará discussões e análises que irão beirar vedadeiras teses freudianas.
De tal importância se reveste o canalha que cada nação tem o seu como um mascote.
O nosso é o Pedro Malazarte; os americanos o tem na figura do Tio Sam; a Itália tem o seu amado Casanova; na Espanha Dom Giovanni e Robin Hood na Inglaterra. As crianças o idolatram nas figuras do canastrão Pica Pau e do maldoso Jerry.
Uma roda de Jogo é uma ambiente que transpira e cheira à canalhice.
Nosso Bem Amado, Odorico Paraguaçú!! Existiu ou existirá canalha mais charmoso, mais brilhante e mais identificado com um pedacinho de cada um de nós ?
O impagável Vadinho de Dona Flor ! Lorde Cigano de By By Brasil, Seu Quequé, o caixeiro viajante de Rabo de Saia. São apenas alguns exemplos dos grandes e amáveis canalhas que povoam nosso cotidiano artístico.
Na arte da conquista e nos jogos do amor, o canalha é imbatível.
Tente competir com um, e verá o resultado !
Mostre à abatida vítima de um canalha qual é sua verdadeira face e amealhará um definitivo inimigo.
Tais características e particularidades fazem com que, ao verdadeiro canalha - por mais combatido que seja pelos falsos moralistas - sempre irá restar o incondicional apoio da maioria, pois sem ele, ela perderá algo que existe e que nunca deixará de existir sob as suas históricas camadas de verniz, a sua própria canalhice. Afinal, já vaticinava o imortal Nelson Rodrigues : “ A virtude pode ser muito bonita, mas exala um tédio homicida".
Isaac Sandes - 03/05/09.

domingo, 23 de agosto de 2009

Música!

Uma bandinha tocava hoje, à tarde, numa das barracas da Ponta Verde:

Wish You Were Here
Pink Floyd

So, so you think you can tell
Heaven from Hell
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

Did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold confort for change?
Did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish
How I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl
Year after year
Running over the same old ground
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Expedição Chui 2002 - APÊNDICE 01

Dentre as inúmeras comodidades disponibilizadas pela informática, encontra-se a possibilidade de guardar, por muito tempo, arquivos que um dia poderão se tornar verdadeiras preciosidades.
Não me refiro ao valor material, inexistente na grande maioria das vezes, mas ao valor sentimental. Muda a tecnologia, mudam os computadores, mas sempre poderemos transferir nossos dados para as novas máquinas, que invariavelmente possuem mais memória.
Estava eu, agora há pouco, remexendo em meus arquivos antigos, de três computadores atrás, passeando entre textos pessoais e de trabalho, alguns datados de 1997, quando encontrei um chamado "Carta aos Motoclubles", gerado em 2002.
Tive a sensação de ter me deparado com o "elo perdido". Eu sabia que esse não seria o nosso primeiro contato com os motoclubes da rota da Expedição Chui, uma vez que as primeiras comunicações já tinham sido providenciadas pelo Hsu.
Abri o arquivo com grande curiosidade. Nem lembrava mais desse pequeno texto, que mandamos para os motoclubes das cidades onde passaríamos alguma noite ou nos demoraríamos mais, poucos dias antes da partida, quando o roteiro já estava praticamente fechado.
Não é um primor de redação e criatividade, mas foi o texto de e-mail que usamos.
"Amigos motociclistas,

É uma satisfação nos dirigirmos aos caros colegas por meio desta correspondência.
Nós (Hsu, Daniel e Humberto), somos integrantes do Motoclube Falcões de Alagoas. No próximo mês de março, estaremos fazendo uma longa viagem de motocicleta através do Brasil. Partindo de Maceió (AL), iremos até o Município de Chui (RS). Nosso projeto pode ser encontrado na internet, no seguinte endereço:
www.falcoesdealagoas.hpg.com.br
O presente contato justifica-se porque teremos o prazer de passar por sua cidade, que foi incluída em nosso roteiro justamente por termos conhecimento da existência de um Motoclube tão reconhecido e organizado como o de vocês.
Para nós será uma honra conhecê-los. Gostaríamos de saber como podemos encontrá-los. Pedimos a indicação de hotéis, com estacionamento, onde possamos ficar em segurança com nossas motos.
Um forte abraço e até breve."

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Expedição Chui 2002 - 04 - Santos & São Vicente - SP

Sei que já faz um bom tempo desde que parei de contar a história da viagem. Prometo que vou tentar escrever, quem sabe, um capítulo por semana.
Bosco e Pedro, lamentavelmente, não confiam mais em minhas promessas, principalmente se forem relacionadas a alguma viagem futura. Não tiro a razão deles, pois sei que fiz por onde, pelo menos três vezes. Aliás, nesse sentido, tem um ditado que nunca esqueço: "Se uma coisa aconteceu uma vez, pode ser que nunca mais aconteça de novo. Mas, se aconteceu duas vezes, pode estar certo de que acontecerá novamente e não há qualquer razão para se supor que não continue acontecendo, indefinidamente".
Entretanto, como este relato não diz respeito a uma viagem futura, mas a uma viagem do passado, pode ser que as coisas sejam diferentes.
Primeiro um desabafo... (e quem me conhece sabe que não suporto a palavra "desabafo", muito menos o verbo "desabafar". Quer me irritar? Encontre-me pensativo, ou mesmo triste e me diga, com a melhor intenção: "desabafe!"). São essas e outras idiossincrasias que nos tornam singulares.
Voltemos ao famigerado desabafo (eca!): Quando comecei a contar a viagem, que ocorreu há mais de sete anos, fiquei empolgado com a expectativa de receber comentários complementares do Hsu e do Daniel. Pensei que eles iriam relembrar as resenhas e as marmotagens que eu eventualmente tivesse esquecido. Mas, como podem comprovar, Hsu mal se manifestou, enquanto Daniel não deu o ar da graça. Fiquei aborrecido, ainda que levemente, pois pensava que seria diferente. Todos temos nossas susceptibilidades.
Ok, agora a viagem.
Onde estávamos mesmo?
Ah! Atravessamos o Rio de Janeiro, Capital, tomamos café da manhã num posto cheio de caminhões. Paguei os sanduíches. Abastecemos? Acho que sim, não lembro. Pegamos a Rio-Santos, ocasião em que lembrei da música do Roberto Carlos "As curvas da estrada de Santos...". São muitas curvas mesmo. Muito calor, alguma chuva, Angra, Parati, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, Guarujá etc e tal, chegamos ao ferry boat, fotos abaixo:


1º de Abril, Dia da Mentira. Seguramente algum de nós contou alguma mentira bem legal, pena que não lembro.
Por outro lado, lembro que após as belíssimas curvas do litoral paulista, enfrentamos algumas retas com excelente pavimento. Estou certo de que passamos por trechos privatizados. Recordo, com uma pontada de nostalgia, que motos não pagavam pedágio. Salvo engano, e creio inclusive que já salientei isso, pagamos pedágio apenas na Bahia, na Estrada do Coco, antes da Linha Verde. As coisas devem estar diferentes agora nesse imenso país.
A foto acima não me traz boas recordações. Primeiro porque eu estava muito cansado, muito mesmo. Minha moto precisava de reparos, ajustes e adaptações, uma vez que se tornara bastante desconfortável pilotar com o barrulho ensurdecedor do escapamento furado e, ergonomicamente, encontrava-me em maus lençóis: a posição semiesportiva da Bandid N1200 fez mal às minhas pernas e costas.
Estávamos nessa lanchonete, situada à beira-mar de São Vicente, quando falei para os meus companheiros que iria ficar por ali mesmo, ou seja, não seguiria com eles até o Uruguai. Verdade! Eu não sabia se os acompanharia na volta ou se despacharia a moto, de qualquer forma, retornando de avião para casa.
Está rindo? Pois foi a mais pura verdade. Entreguei os pontos, desisti. Aquele era o fim para mim, pensei...
Outra razão para não gostar da foto é que, nessa lanchonete, comemos um prato gigantesco de batatas fritas. Será que Daniel e Hsu lembram disso? Eu, particularmente, recordo muitíssimo bem, visto que, ao chegar ao hotel, constatei da pior maneira que meu estômago não aceitaria digerir aquele inesperado, inoportuno e imenso aporte de óleo de soja. Vomitei tudo. Peço desculpas por essa passagem escatológica.

Oficina da Suzuki. Santos ou São Vicente? Não lembro. Para quem não sabe, Santos e São Vicente são municípios, ou melhor, cidades limítrofes. Não há solução de continuidade urbana. Noutras palavras, parece uma única cidade.
Observe que estamos com camisetas iguais, brindes da Suzuki.
Eita... não estamos na oficina da Suzuki. Isso é uma loja de pneus, agora lembrei melhor.
Esperei muito tempo para dizer isso: "Troquei o pneu dianteiro, Hsu trocou o traseiro!". Engraçado, não? Tenho essa piada na manga, para sempre, pois realmente troquei o pneu dianteiro e o Chinês trocou o pneu traseiro da sua moto.
- Hsu, foi mal! Não tem aquela história de que se perde o amigo e não a piada?
Daniel não trocou pneu, salvo engano já os tinha trocado em Maceió. Além disso, os pneus das Bandits são mais macios, então gastam mais rápido. Os pneus da Marauder, uma moto custom, são mais estradeiros e menos esportivos, portanto mais duros, rendem mais. As trocas de pneus, minha e do Hsu, já estavam programadas.








Nas quatro fotos acima está registrado nosso primeiro encontro com os MotorsVivos, Motoclube de São Vicente-SP.
Nas duas últimas fotos, o sujeito da extrema direita é o nosso amigo Gouveia. Sim, isso mesmo, Gouveia, mesmo nome do nosso outro amigo de Linhares-ES.
O Gouveia de São Vicente, na ocasião, era o Presidente do MotorsVivos. Mantivemos contato prévio, via internet, fato que, não apenas em Santos e em São Vicente, fez com que fossemos muito bem recebidos pelos mais diversos motoclubes do caminho. Será uma satisfação, sempre renovada, recordar e destacar a hospitalidade motociclistica que encontramos em nossa rota.

Passamos um bom tempo em Santos. Salvo engano, quatro a cinco dias.
04 de abril, meu aniversário.
A foto acima, sem dúvida tirada pelo Gouveia, foi em frente ao hotel em que nos hospedamos. Lembro que o hotel não era bom, mas também não era muito ruim. Seria, digamos, um hotel "turístico", algo entre duas e três estrelas. Duas estrelas e meia, no máximo.
Nossa demora em Santos foi devida a vários fatores, dentre eles duas idas a São Paulo, Capital. Não fui da primeira vez, posto que estava meio detonado, como diziam. Eu ainda estava naquela de desistir de seguir em frente etc.
Fui a Sampa da segunda vez, inclusive dormimos lá, no bairro da Liberdade, no hotel Banri. Passeamos na Capital Paulista, compramos as peças de que precisávamos e visitamos uma feira no Anhembi, salvo engano. Meus primos Roberto e Rodrigo estavam por lá, expondo seus produtos.
Hsu comprou um radiador novo, pois o dele havia furado. Comprei um novo escapamento e pedaleiras que adatei no matacachorro. Foram essas peças, as pedaleiras e o scap, que me possibilitaram seguir adiante. Como num passe de mágica, as pedaleiras "adiantadas" solucionaram as dores nas pernas e nas costas, enquanto que a surdina inox fez a moto ficar uma delícia de silenciosa. Vivendo e aprendendo.
Já que falei do hotel de Santos, agora vou dar a exata idéia do que eu quis dizer com inesquecível e calorosa hospitalidade: os MotorsVivos simplesmente pagaram as nossas despesas no hotel! Quando digo despesas, incluo também as diárias.
Essa foto deveria estar acima, junto com as demais do dia 03 de abril!
Destaque para o Daniel, com outra das camisetas que ganhamos da Suzuki.
O sujeito que está ao lado do Daniel, também agachado, se não me falha a memória, era o que os MotorsVivos chamam de "ovo". "Ovo" é o aspirante, graduado, a integrante do motoclube. Quando se pretende ingressar no motoclube deles, segundo nos disseram, passa-se um tempo apenas os acompanhando. Isso sem esquecer que, para pleitear o ingresso, tem de ser indicado por um integrante efetivo. Pois bem. Passa-se um tempo sem qualquer identificação. Posteriormente, o aspirante recebe um colete de couro, sem nada. Depois de algum tempo, o referido colete de couro recebe um bordado branco e oval, nas costas, em formato de ovo. Dai a denominação "ovo". Esse bordado oval e branco nada mais é do que o pano de fundo de um outro bordado, que será concedido ao aspirante que lograr efetivação, por bom comportamento e companheirismo. Assim, terminado o rito de passagem, o novo sócio do motoclube recebe o bordado do brasão dos MotorsVivos em cima do fundo branco, ou seja, do ovo.
Espero não ter dito besteira, mas acho que foi isso que o Gouveia nos informou. Seria ótimo que o Hsu e o Daniel complementassem as informações, mas perdi as esperanças...
A foto acima é na sede dos MotorsVivos. Muita gente, todo tipo de moto, inclusive scooters como Honda Biz etc. O ambiente é altamente familiar, verdadeira irmandade. Nós nos sentimos em casa, todos queriam conversar e tirar fotos conosco. Noite inesquecível, não nos deixaram pagar nada, como sempre.

Daniel tomando pepsi. Não devia ter coca-cola, claro!
Muitos motociclistas, principalmente de motos custom, gostam de usar coletes, como os da foto acima. Costumam colocar pins metálicos, bordados etc.
Eu, particularmente, nunca tive vontade de possuir um desses.
Mais coletes e mais pins.

Nosso amigo "ovo", à esquerda.
Um motociclista acidentado, à direita.

Gouveia, o Presidente, com dois de seus companheiros.
Eles estão tomando cerveja, a foto não nega. Aproveito a ocasião para salientar que eu, Hsu e Daniel não bebemos quando estamos de moto. Hsu e Daniel, aliás, não bebem em hipótese alguma.

Mais MotorsVivos.

A campeã dos pins metálicos, com seu colete que mais parece um vestido.
Daniel e sua pepsi.
Eu sem colete, como sempre, mas com o celular na cintura... ridículo, hoje eu sei.
Em frente a sede dos MotorsVivos. Motos de todos os tipos e tamanhos.

Essa foto é historica. O cidadão de branco é o "Seu" João, se não me engano quanto ao nome. O outro, de azul marinho, seu ajudante.
Seu João é o que poderíamos chamar de mago da mecânica de motos: conseguiu regular os motores das nossas motos. Pode parecer simples, mas não é, posto que as motos eram carburadas. Para se ter uma idéia, os própios mecânicos da Suzuki, em mais de uma ocasião, não conseguiram fazer com que as nossas máquinas trabalhassem "redondinhas", como ficaram após a intervenção desse supermecânico.
Em uma oficina rústica, de ponta de rua, mas com equipamentos adequados, Seu João nos fez rodar, até o fim da viagem, com muito mais economia e desempenho. Daniel poderia explicar melhor o procedimento adotado. Lembro que demorou muito e não foi barato.
Jantamos com o Gouveia, em 04 de abril, em uma churrascaria.

Essa foto também deveria estar lá em cima.
Mas, já está tarde e estou cansado.
Quis postar hoje mesmo e escrevi tudo meio rápido e numa única sentada. Poderia ter sido mais detalhista, mas a vontade de postar logo foi mais forte.
Perdoem eventuais erros de Português ou palavras truncadas. Decidi que não vou revisar nada, pelo menos não por hoje...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Texto - Mais uma excelente contribuição do amigo Isaac Sandes

A RADIOLA DA CAFETINA

“Quem tripas comeu e com viúva casou, sempre há de se lembrar do que por lá andou."
O sábio provérbio português serve muito bem a quem queira evocar reminiscências de suas raizes.
Mergulharei agora, a uma profundidade de aproximadamente 40 anos, para resgatar de minha infância, pendores e gostos que, engastados nas profundas minas do tempo, vez por outra afloram como auríferos veios.
Quem de nós, vez em quando, não se delicia nesta solitária e vivificadora garimpagem de memórias ?
Relembrar, é viajar no tempo sem as dispendiosas e futuristas máquinas da literatura ficcionista.
É uma viagem franca e baratinha. Verdade que, vez por outra, nossa nave viageira teima em passar perto, ou mesmo atingir lembranças que fazemos questão de desviar e trancar à sete chaves no mais profundo sótão da memória. Mas, se bem conduzirmos nossa barata nave, poderemos usufruir das mais doces, mais ternas e gratificantes lembranças.
Neste momento, minha fantasiosa máquina do tempo se dirige, em profundo vôo para tentar descobrir ou suspeitar de onde surgiu, ou, onde se amalgamou meu gosto pela música.
Minha primeira parada é no doce e afinado cantar de minha mãe, que enfrentava a faina diária com as armas da música, interpretando magistralmente as mais diversas cantigas do cancioneiro popular.
Próxima estação. A casa vizinha onde o carroceiro Cartolinha, em suas horas vagas, dedilhava competentemente um violão e eu, como seu moleque preferido, durante horas e horas, o acompanhava naquelas fugas de seu duro dia- a- dia.
Já mais adiante, me vejo peruando a roda de choro, formada por João de Santa, Paulo dos Meirús, Adail Arruela e Luiz de Bão na percussão.
Nesse grupo, a figura de Adail Arruela se destacava, tanto pela competência musical, quanto pela orígem de seu apelido. “Arruela “ ( uma referência indireta à sola de que as arruelas eram feitas naquele tempo).
Contam os mais antigos que Adail ganhou esse apelido após pitoresco episódio havido em uma farra. Seguinte: Dizem que Adail apesar de exímio violonista, era dado a uma certa enrolação. De poucas posses, aproveitava as farras para fazer, dos suculentos tira-gostos ali servidos, o seu gratuito restaurante. Tanto assim, que não havia tira-gosto que bastasse para o voraz Adail. Após ter comido todo o tira-gosto, Adail se enfadava e sempre arranjava um jeito de, lá por altas horas, quando sabia tudo fechado, arrebentar as cordas de seu violão e, de barriga cheia, rumar pra casa para um reparador sono.
Como na esbórnia a malandragem é de todos. Os colegas de farra de Adail logo identificaram sua manha e lhe preparam o troco.
Combinaram nova farra, convidaram Adail sob promessas dos mais variados e apetitosos tira-gostos e lhe aprontaram a armadilha.
Colocaram vários pedaços de sola no molho por alguns dias, lhes adicionaram quase uma caravela de temperos e especiarias, então, fritaram os bifes de sola e os envolveram em irresistível farofa acebolada.
Ao sentir as emanações do redentor prato, Adail quase estraga seu violão, agora com a baba quase epiléptica que lhe escorria pelos cantos da boca.
Iniciada a farra, Adail lançou-se sobre o prato de tira-gosto, que não sabia ser de sola, com voracidade de uma hiena. Mastiga…, mastiga, e nada de car cabo dos insuspeitos bifes. Dessa vez, a farra viu o nascer do dia sem que as cordas do violão de Adail se quebrassem. Finalmente, a ficha de Adail só veio cair quando um gaiato, sem se conter, começou, em referência à sola, a chama-lo de Arruela. Então o tempo fechou, os exaustos farristas, levaram um bom tempo para conter a fúria de Adail. Daquele dia em diante, quem o chamasse de Arruela, corria o risco de levar alguns pontos na cabeça provocados por um braço de violão.
Sem dúvida, outro ponto musical que me emprenhou de influências musicais, ficava na casa de Dedé de Burdão, velha irascível e quase intragável, mas que se tornava uma seda quando recebia, em visita, sua filha, uma notória cafetina.
Diziam os mais velhos que, na juventude, aquela alquebrada cafetina havia sido uma morena de curvas mais perigosas do que as da estrada de Santos. Tal fartura e formosura, nas artes do amor e que tais, passaram a servir ao coletivo, tornando-a uma das mais requisitadas e bem sucedidas no milenar ramo.
Mas, alcançada pela dureza e crueldade do senhor tempo, aos poucos, foi perdendo seus encantos e passando a ocupar o posto que as mais inteligentes ocupam quando chegam ao ocaso na carreira. O de Cafetina.
Ungida na nova plataforma sexual, estabeleceu-se como a mais requisitada casa da Rua Chico Nunes, baixo meretrício de Palmeira dos Indios. E, tendo amealhado razoáveis recursos, vez por outra, tal qual uma Chica da Silva sem Arraial, em Feliniana caravana, visitava sua mãe, Dona Dedé.
Essa visita era quase um evento em nossa pequena cidade, porque a cafetina chegava com uma verdadeira entourage, abalando os dias calmos da Rua de Cima, onde se estabelecia. Na suaTroupe, tínhamos invariavelmente, um Cafetão da hora, uma nova putinha nova em estágio probatório, um ou dois viados que cuidavam da cozinha ou da arrumação da casa, um magro leão de chácara e seus sobrinhos que ajudavam na administração do negócio.
Por outro lado, eu, um inocente garoto de nove ou dez anos, não conseguindo ver, no momento histórico, que a peça mais importante daquele profano cortejo era, na verdade, a putinha estagiária, dirigia toda minha atenção e alegria para uma enorme radiola de madeira que, dia e noite, tocava os mais recente sucessos de Moreira da Silva, Nelson Gonçalves e Altemar Dutra, vez por outra, acompanhada pela bela voz da dona.
Ali, de pé em frente a uma das janelas da humilde casa que não tinha nem eira nem beira, passava horas e horas ouvindo, num momento, o som da grande radiola da cafetina, noutro, a voz de sua dona, que, acompanhada em segunda voz por seu Cafetão da hora, demonstrava os pendores artísticos que a tinham alçado ao atual status.
Inocentemente, imaginando ser aquela desenvolta mulher uma empresária de grande sucessou eu, ali naquela janela, trocando, vez por outra, o pé cansado da demora, ia torcendo para que o seu sucesso nunca declinasse, pois se tal acontecesse eu definitivamente perderia o inenarrável prazer de escutar a radiola da cafetina.

Isaac Sandes
Maceió 07/05/2009

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Poema... ?? ok, depois vou pensar em numerar os poemas! Talvez no próximo ano, depois do Carnaval... não, melhor, este será o 01! Esqueçamos os demais

Já que na postagem anterior vimos nada mais, nada menos, que Dom Pedro II falando, em versos, sobre a ingratidão, decidi trazer para o blog um dos sonetos mais famosos acerca do tema. Talvez seja o mais famoso mesmo...



VERSOS ÍNTIMOS



Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro da tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

AUGUSTO DOS ANJOS

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dom Pedro II










Ingratos



Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.


Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua f'licidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.


Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,


É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.


Dom Pedro II

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Diálogos 15

Na Barra de São Miguel:

(Eu) - Tenho de voltar para a academia, fazer uma dieta e pensar, talvez, em uma lipo ou implante de cabelo...
(X) - Não precisa de nada disso, apenas troque de carro!
(Eu) - Eita... e é?
(X) - Com certeza, compre um carro bom, vai ficar muito mais bonito e dará mais resultado.
(Y) - É mesmo!
(Z) - Concordo.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Música! - U2 e Green Day - Mais antigo do que velho

Então eu decidi, semana passada, conferir o dvd do Bruce Springsteen, que havia comprado há meses, por uma bagatela, numa daquelas promoções de supermercado.
A expectativa era grande, mas logo constatei que se tratava de um documentário, não de um show, como eu esperava.
Com isso, tive por bem revisitar o bom e velho U2. Não Hattle and Hum, que já vi dezenas de vezes, apesar de continuar sendo o meu favorito. Optei pela coletânea que garimpou vinte anos de clipes.
Devo destacar, por oportuno, que as mídias mencionadas são, todas elas, originais. Ou, como se dizia no tempo do VHS: "seladas".
Pois bem. Lá pelas tantas, num cenário bem contemporâneo, eis que me surgem U2 e a banda Green Day, tocando juntos a música que segue abaixo.
Muito legal! Recomendo. O rítmo é contagiante e os caras parecem estar se divertindo, muito embora seja uma música "engajada".
Lembro, com alguma decepção que, no dia seguinte, mandei o link do clip para o Bosco, que não deu o menor valor, limitando-se a dizer que seria antigo.
Tudo bem, sou mais antigo do que velho.




U2 & GREEN DAY



THE SAINTS ARE COMING
- THE SKIDS



There is a house in New Orleans
They call the Raising Sun
It's been the ruin of many a poor boy
And god, i know i'm one

I cried to my daddy on the telephone
How long now
Until the clouds unroll and you come home
The line went
But the shadows still remain since your descent
Your descent

I cried to my daddy on the telephone
How long now
Until the clouds unroll and you come home
The line went
But the shadows still remain since your descent
Your descent

The saints are coming, the saints are coming
I say no matter how i try, i realise there's no reply
The saints are coming, the saints are coming
I say no matter how i try, i realise there's no reply

New birth to the rebirth
New Orleans

Living like birds in magnolia trees
A child on a rooftop, a mother on her knees
Her sign reads
Please, i am an american

A drowning sorrow floods the deepest grief
How long now
Until a weather change condemns belief
How long now
When the night watchman lets in the thief
What's wrong now

The saints are coming, the saints are coming
I say no matter how i try, i realise there's no reply
The saints are coming, the saints are coming
I say no matter how i try, i realise there's no reply
I say no matter how i try, i realise there's no reply
I say no matter how i try, i realise there's no reply

http://www.youtube.com/watch?v=seGhTWE98DU&feature=player_embedded

domingo, 19 de julho de 2009

Para refletir 07

MISTÉRIO…! MUITO MISTÉRIO!


"Existem mais mistérios entre o céu e a terra do que pode suspeitar nossa vã filosofia. Já vaticinava o bardo !!
Todos estão cansados de saber que existem mais mistérios entre homem e mulher, entre um irmão e outro, entre dois amigos, dos que os tais mistérios que possam existir entre o céu e a terra, ou melhor: que possa suspeitar nossa pobre filosofia. É nessa linha que canta o Ministrel: “Mistério sempre há de pintar por ai”.
Entretanto, existem, mesmo, certos mistérios que colocam em xeque todo conhecimento da humanidade.
Pesquisas com neutrinos, aceleradores de partículas, sondagens intergaláticas com potentes radiotelescópios, nanotecnologia, pesquisas com céulas troncos, mapeamento do genoma, todos esses campos do avançado conhecimento humano, envolvem, cada a um, a seu modo, mistérios….! Muitos mistérios!!!
O mistério vem acompanhando a raça humana desde seus primórdios. Fica fácil imaginar o que ela se tornaria sem essa força motriz que estimula a curiosidade e, finalmente, a pesquisa.
Cá de minha vã – ou melhor, de minha minivan filosofia - arrisco a afirmar que o mistério e a curiosidade foram as molas mestras que impulsionaram a inteligênca humana em seus primórdios.
Afinal, todas religiões surgiram em razão de mistérios inescrutáveis pelo pobre homem. Da mesma forma, sempre fizeram questão de preservar tais mistérios e usá-los como combustível de sua existência e manutenção.
Nosso Direito, em particular, sempre utilizou uma boa dose de mistério em seus ritos e liturgia, com finalidade de impressionar o leigo e, até hoje, recorre ao morto e sepultado latim nesse desiderato. Quem nunca ouviu um introspecto e impertigado causídico disparar: “Fumus boni Juris..” Etc.
Mas…! O grande e indecifrável mistério que vem perseguindo a humanidade desde os meados do sec. XX, reside num objeto simples e que faz parte do cotidiano de todos nós, seja você o maior mandatário do planeta, ou o mais humilde assistente provisório de um sub-carimbador interino.
Não se espantem nem me taxem de ridículo, ao lhes revelar que o gigantesco mistério que embatuca a humaniade é protagonizado por algo que todos nós conhecemos de perto, mantemos sempre junto ao nosso corpo e, quando dele precisamos e não o encontramos, somos tomados de uma frustração que beira as raias do pânico. Esbravejamos em nossas casas, perdemos a fleuma, a compustura e passamos a acusar, inconsequentemente, nossos amigos ou familiares próximos como responsáveis diretos pela quase tragédia.
Não ria se eu lhe revelar que o misterioso objeto do qual estou falando é uma inocente caneta Bic.
E que, o grande mistério, é o seu inesperado, inexplicável e recorrente desaparecimento de nossos bolsos, de nossas pastas ou dos nossos locais de trabalho.
Você já notou como milhares de canetas Bic, somem diariamente da vista da humanidade, sem que ninguém jamais suspeite seu paradeiro ou a forma como desapareceu?
Você já parou pra pensar que, sendo a população do planeta em torno de seis bilhões de almas e, tendo cada uma, durante sua vida, visto desaparecer diante de seus olhos, pelo menos, meia centena de canetas Bic’s, o quanto é gigantesco o tal mistério que se segue ao sumiço ?
Já parou pra calcular que tal desaparecimento importa na evaporação inexplicáel de aproximados trezentos bilhões dos misteriosos objetos ?
Você mesmo! Me responda: Quantas canetas Bic já viu desaparecer ?
Pela quantidade de tais objetos perdidos, seria de supor que, em determinado momento, alguém acidentalmente haveria de encontrar lugares onde estariam depositadas e adormecidas montanhas delas. Mas não ! Não! Nunca se teve notícia de qualquer descoberta desses esquecidos e gigantescos depósitos onde teriam supostamente que estar, os milhões de Bics que diariamente somem misteriosamente.
Os mais zen ou místicos que mexem com ufolugia querem mesmo crer que as canetas Bic, são seres extraterrestres transfigurados naquela forma, os quais, uma vez cumprida sua missão entre nós, misteriosamente retornam ao seu local de orígem, incógnito nas profundezas do universo. Nos deixando aqui pasmos e atarantados com seu repentino sumiço.
Acrescente-se a tal mistério o que, talvez seja o mistério maior: Antes de se desmaterializar diante de nós, toda caneta Bic vê primeiro desaparecer sua tampinha, para, tempos depois, ela mesma sumir. Tal episódio prévio - Talvez em razão das mordidas que lhes damos - nos faz suspeitar que as tampinhas ao sumirem, desencadeiam o irrefreável fenômeno da desmaterialização da canetas, pois mesmo se as amarrarmos após perderem suas tampinhas, elas, invariavelmente, irão sumir.
Portanto, eis o mistério dos mistérios. A você, que insiste em não acreditar no que estou dizendo: Lanço um repto!
Quem nunca viu, inexplicavelmente, sumir diante de seus olhos, pelo menos uma dezena de canetas Bic, que atire a primeira tampinha."

Isaac Sandes - 30/05/09

quinta-feira, 16 de julho de 2009

GREVE - 02

Não diria que o blog está em greve.
Talvez seja mais apropriado falar em "lock out".

terça-feira, 7 de julho de 2009

Poema

CAFÉ

Desencarno arábias
de uma xícara morna
de café.
E um fio negro
me assedia a boca.

(Através da janela
o galho de pitanga
ostenta seu adorno
encarnado).

Viajo
pelo negror do pó:
Dar-El-Salam,
Bombaim,
Áden
(sem Nizan, sem Rimbaud):
as colinas ocres,
a poeira dos dias.

De onde vem o grão
dessa saudade?

Desentranho arábias
dessa xícara fria.
Enquanto aguardo o dia
que não chega.

Desacordo e sorvo
a sombra morna
do que sou
na borra
do café.

Poema de EVERARDO NORÕES

Para refletir 06

HAI KAI

Ahan…Ahan… !
depressa passam os anos!
Suspirou o Tobogan.
*
Sorria comensal, sorria !!
No reverso das coisas,
Tu serias o boi da churrascaria.
*
-Corrupto; ladrão ! Brada o autofalante.
-Ingrato; injusto.
-Se queixa o autopagante.
*
Ai…!! Amor ingrato!
Não basta a cegueira?
Ainda nos tira o tato.

....

Do amigo e colaborador ISAAC SANDES.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ainda um pouco de música...


Todo mundo gosta quando, após ligar o rádio, começa a tocar uma bela música.
Por falar em rádio, lembrei agora de uns aparelhos que vi em Gravatá-PE, dias atrás: parecem rádios bem antigos, imitando madeira etc... mas, além de receberem sinais AM e FM, possuem entrada "USB", ou seja, aceitam pen drive...
1) Já que mencionei USB (u-esse-bê), recordo a cara que o meu amigo Fernando Nobuger fez quando pronunciei, tempos atrás: "uss-be"... parecia que eu tinha cometido um pecado sem perdão.
2) Já que mencionei Gravatá, quero deixar consignado o meu elogio: acolhedora, como costumam ser as cidades turísticas do interior. Recomendo, para quem gosta de um friozinho no inverno, com todos os seus complementos e consectários, tais como vinho, fondue etc.
3) Já que mencionei rádios antigos: quem tiver um rádio Abc Canarinho em funcionamento, como o da foto acima, receba os meus cumprimentos. Quem tiver um para vender, em funcionamento e em bom estado (tela, box etc)... pode falar comigo.
Mas, voltando ao assunto... música!
Então ligo o rádio e, como diria o Poetinha: "não mais que de repente", eis que me surge Alanis cantando a música que segue abaixo.
Pus-me a pensar, nesses encontros e desencontros que a todos nos acontecem. Falando em desencontros, lá me vem novamente o Poetinha (Vinícios de Moraes), com a máxima de todos conhecida que, de tão conhecida, nem preciso colocar aqui...
Ela está certa mesmo, Alanis, ao dizer que a vida tem uma maneira engraçada de nos atrapalhar ou de nos ajudar, quando menos esperamos. É irônico e até engraçado.
IRONIC
Alanis Morissette

An old man turned ninety-eight
He won the lottery and died the next day
It's a black fly in your Chardonnay
It's a death row pardon two minutes too late
Isn't it ironic... don't you think

(chorus)
It's like rain on your wedding day
It's a free ride when you've already paid
It's the good advice that you just didn't take
Who would've thought... it figures
Mr. Play it Safe was afraid to fly
He packed his suitcase and kissed his kids good-bye
He waited his whole damn life to take that flight
And as the plane crashed down he thought
"Well, isn't this nice."
And isn't it ironic ... don't you think

(chorus)
It's like rain on your wedding day
It's a free ride when you've already paid
It's the good advice that you just didn't take
Who would've thought... it figures

Well life has a funny way
of sneaking up on you when you think everything's okay and everything's going right
And life has a funny way
of helping you out when you think everything's gone wrong and everthing blows up in your face

A traffic jam when you're already late
A no-smoking sign on your cigarette break
It's like 10,000 spoons when all you need is a knife
It's meeting the man of my dreams
And then meeting his beautiful wife
And isn't it ironic... don't you think
A little too ironic.. and yeah I really do think...

(repeat chorus)
Well life has a funny way of sneaking up on you
And life has a funny, funny way of helping you out
Helping you out

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Diálogos 14

(Eu) - Comprei um fiesta!

(?) - Hatch ou sedan?

(Eu) - kkkk .... não, foi aquele bicho maior que uma galinha e menor que um peru...

terça-feira, 30 de junho de 2009

Para refletir 05

O texto abaixo foi gentilmente enviado pelo amigo Isaac, que mais uma vez enriquece este blog com uma excelente contribuição.

- Muito obrigado, Isaac. Gostaria de continuar a receber seus escritos e comentários. Um grande abraço!





"CRIADORES E CRIATURAS



Quem criou quem? Deus ao homem ou o homem a Deus?
O recente e triste episódio da morte de Michael Jackson nos joga na cara a enigmática e, até considerada, herética pergunta.
Lá atrás, em uma quadra perdida de sua existência, quando se tornou consciente de sua finitude, o homem passou a criar deuses. Quer seja Tupã, Javé ou Maomé.
E, nessa sua saga sobre a face de planeta, o homem nunca deixou de viver sem um deus para dividir com ele o carregar do pesado fardo que consiste na consciência de si mesmo, na ciência da própria morte e na brevidade de sua vida.
Assim, para cada fato ou evento em que não encontrasse explicação adequada à sua pobre lógica, ele ia criando um deus ou um ídolo como espécie de conforto e projeção de si mesmo, bastando para isso apenas um agente catalisador do processo, encontrado na figura de um líder tribal ou de alguém interessado na detenção de parcela de poder.
Tal não tem sido diferente com os ídolos populares. A mídia, com seus poderosos instrumentos, se encarrega de criar astros e nós, por nosso lado, nos encarregamos de chancelar a criação de um deus.
É de se observar que, quando de épocas em que não existia o poder avassalador da mídia , também não existiam os deuses e ídolos advindos do mundo artístico e esportivo.
A genialidade de Mozart, de Bach, Leonardo da Vinci, de Michelangelo e tantos outros, passou por aqueles que viveram sua época, sem qualquer endeusamento ou idolatria. Ao contrário, alguns deles morreram no mais completo ostracismo e mesmo miséria financeira.
Por que? Porque naqueles tempos não existindo a poderosa mídia essa tarefa estava afeta apenas a um setor que dominava a cena política e social. A então poderosa igreja. Era ela quem criava os ídolos e deuses de então. Levando a humanidade a uma catarse que ia das peregrinações a Jerusalém até as santas cruzadas.
Hoje, mudado apenas o centro do poder criador, temos, da mesma forma, legiões que se deslocam até Graceland e certamente se deslocarão em adoração até Neverland.
Interessante e paradoxal é que, para criarmos nossos deuses, temos que primeiro matar um homem, a exemplo do pobre Michael. Dando-se, em tese, o contrário com a suposta criação do homem que, para existir tem apenas que nascer. Ou será que, do outro lado, algum deus teve que morrer para que um homem nascesse ?
Fato é que, com isto, está respondida a segunda parte de nossa pergunta, sem dúvida, o homem cria deuses. Agora, se deus cria homens, essa é uma pergunta que só poderia ser definitivamente respondida por quem acabou de ultrapassar os portais das conhecidas dimensões, ou seja, o nosso querido e recém criado Michael."



Isaac Sandes Dias

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Diálogos 13

(Senhora X) - Ele tem a altura do pai e a gordura da mãe!

(Eu) - ...?

(Mãe) - @%¨&*%#!!!

(Irmã) - kkkk

domingo, 14 de junho de 2009

Expedição Chui 2002 - 03 - Rio de Janeiro

Deixamos Linhares e continuamos nossa jornada rumo ao Sul. Não tínhamos hotéis reservados, apenas um trajeto "mais ou menos" definido, que poderia ser modificado a qualquer momento.
Gostamos tanto do hotel (custo x benefício) e dos amigos (simpatia) de Linhares que combinamos de, na volta, se possível, dormir novamente na mesma cidade.
Então, partimos rumo ao Rio de Janeiro. A estrada não era ruim, mas não era ótima. Era, se me lembro bem, muito bonita.
Dormimos numa cidade cujo nome não lembro, antes de Niterói - RJ. Claro que passamos pela entrada de Vitória -ES, Guarapari, Campos dos Goytacazes etc. Lembro ter visto uma placa: Cachoeiro de Itapemirim, tendo me perguntado o que seria um "cachoeiro"...
Enfrentamos, no Estado do Rio de Janeiro, um grande engarrafamento, em um trecho duplicado da BR. Recordo que ficamos um pouco assustados, pois vimos vários patrulheiros rodoviários federais com trajes de "guerra", ou seja, com roupas, proteções e armamentos que não costumamos ver por aqui na PRF.
Antes de Niterói (acho que era São Gonçalo!), ficamos em um hotel algo tenebroso. As motos ficaram no subsolo, um local muito esquisito, por sinal. Foi uma noite muito mal dormida, pois já chegamos meio tarde e queríamos sair bem cedo, com o intuido de cruzar o Rio de Janeiro (Capital) antes do trânsito ficar intenso. Foi o que fizemos.
Acordamos muito cedo e saímos do tal hotel sem tomar café da manhã. Lembro que o recepcionista ficou espantado com a nossa partida. Salvo engano, saímos às 5h, quando o café da manhã só seria servido às 6h. Não creio que tenhamos perdido grande coisa.
Logo estávamos em Niterói. Foi uma grande alegria se sentir "rodando" no Rio de Janeiro. Digo isso, talvez, porque àquela altura do campeonato estávamos começando a nos sentir longe de casa. Em Salvador, nos sentíamos em casa. Itabuna? Perto de casa. Linhares? Um pouco longe de casa. Niterói? Muito longe de casa. Talvez assim eu possa explicar melhor. A partir de Niterói, cada dia mais longe de casa.
Nunca vou esquecer a sensação de cruzar a Ponte Rio-Niterói, de moto. Temos isso em nossos currículos. Grande emoção: dá para ver, lá longe, o Cristo Redentor. Além disso, a ponte é bem alta, linda e longa. Não tenho palavras para exprimir a alegria de estar lá.
Cruzamos a cidade do Rio de Janeiro, a partir das informações do Daniel e do Hsu, além do que nos foi dito pelo mapa e por alguns frentistas de postos de combustível. Não dei qualquer palpite ou opinião, pois já tinha nos feito perder duas horas em Salvador, perdidos, procurando o ferry boat. Assim, para não ficar com a culpa de ter causado nossa "perdição" no Rio, apenas os segui, em silêncio.
A verdade é que atravessamos a Capital carioca sem maiores problemas. No meio da manhã já estávamos parados em um grande posto de combustível, cheio de caminhões etc, tomando nosso café da manhã. Lembro que fiz questão de pagar tudo.
Estávamos, então, no rumo RIO-SANTOS. Que estrada fantástica!!!
Perigosa, claro. Muitas curvas, algum movimento, obras etc. Mas, devo dizer bem, uma belíssima estrada.
As fotos abaixo são em Angra dos Reis, perto da usina nuclear.
Daniel e sua bela Marauder verde e preta. Seguramente a moto mais confortável do grupo. Muito legal essa foto.


Eu e a minha Bandit cor de vinho. A bichinha andava direitinho, com seus quatro cilindros e pneus esportivos.


Nós três, com as motos. Quem teria tirado essa foto? Algum benfazejo anônimo que cruzou nossas vidas e, provavelmente, nunca mais voltaremos a ver.
Eita... acho que não foi isso! A máquina do Hsu, digital, tinha um acessório: um tripé pequeno e desmontável. Talvez essa foto tenha sido programada. Deve ter sido isso mesmo, pois usamos esse recurso várias vezes.
De qualquer forma, a hipótese do ser benfazejo, por possuir algum romantismo, deve ser deixada aqui, não é?
Usávamos roupas de couro. São lindas, claro, mas são muito pesadas, quentes e não seguram a água por muito tempo. Isso serve para as nossas botas e luvas. A água da chuva demora a entrar, mas entra, não tem jeito.
Hoje em dia teríamos usado roupas mais modernas. Parece que a tecnologia avançou muito nesse seguimento, pois os motociclistas atuais usam tecidos hi-tech, como cordura etc. As roupas de hoje são mais leves, mais ventiladas, impermeáveis e protegem muito mais, em caso de tombo. Noutras palavras, são muito melhores em todos os aspectos, salvo no preço, pois são bem mais caras.
Dentre as coisas que aprendi nessa viagem, pelo menos agora, por oportuno, devo destacar exatamente isso: não se deve fazer economia em equipamentos de segurança e conforto. Conselho de amigo, procure sempre o melhor. O barato vai sair caro, pode acreditar, salvo se você não tem a pretensão de fazer uma longa viagem de moto. Nossa viagem, ao final, completou 10.000 km.
Em uma viagem assim, os equipamentos são testados ao limite. Chove, faz frio; bate um sol danado, faz calor. Como disse acima, isso vale para luvas e botas. Isso serve também para capacetes, verdade seja dita. Vale para óculos escuros e para todo o resto. Há equipamentos nacionais tão bons quanto os importados, com preço melhor. Mas, mesmo assim, preço melhor significa algo em torno de mil e quinhentos reais, para um conjunto calça-jaqueta impermeável, com proteções, forro removível e tecido hi-tech.
Mas, em 2002, não era essa a nossa realidade. Usamos roupas de couro e, pasmem: tínhamos capas de chuva! Mais adiante vou colocar algumas fotos com as capas de chuva. Lembro que usamos ao atravessar Curitiba. Hoje seria um absurdo pensar em toda aquela roupa de couro coberta por uma capa de chuva.
Não teria outra palavra senão "MARMOTAGEM", para definir a indumentária. Mas, no motociclismo, como em tudo na vida, cada um cria, faz e/ou usa suas próprias marmotas.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Diálogos 12

(Eu) - Então ela disse, no bilhete, que te amava?
(Amigo) - Você sabe como são as mulheres...
(Eu) - Imagino que você deve dizer a mesma coisa.
(Amigo) - Você sabe como são os homens...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Para refletir 04

"Ninguém pode construir em teu lugar
as pontes que precisarás passar,
para atravessar o rio da vida
ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números,
e pontes, e semideuses que se oferecerão
para te levar além do rio;
mas isso te custaria a tua própria pessoa;
tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho
por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o."

Nietzsche

terça-feira, 9 de junho de 2009

Foto-resenha 01





Sanduba de mortadela, no Mercado Municipal de São Paulo. O sanduíche pode ser: frio ou quente; com ou sem queijo e com ou sem salada. Pode ser partido ou não. Esse ai foi partido, era quente, com queijo e salada, ou seja: com absolutamente todos os opcionais.

Nesse dia ainda tive "ânimo" para experimentar uns tais pastéis de bacalhau. Trouxe para Maceió uma caixa com os afamados Pastéis de Santa Clara, que são doces de origem portuguesa.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Para refletir 03

"Para obter algo que nunca teve, precisa fazer algo que nunca fez"

Expedição Chui 2002 - 02 - Linhares - Espírito Santo (IDA)

Continuando a história, agora vejo que muitos momentos importantes não foram fotografados. Por exemplo: a partida, debaixo de uma chuva danada, do posto BR que fica por trás da sorveteria Bali, nosso ponto de encontro há anos (a sorveteria!).

Todo nosso planejamento, reuniões e mais reuniões, na Bali, na casa do Hsu, em restaurantes etc, com calculadoras, blocos de notas, mapas rodoviários, nada disso foi registrado. Outra coisa, mandamos fazer dezenas dessas camisas amarelas, que usamos em toda a viagem e distribuímos pelo Brasil afora. Salvo engano, cada um mandou fazer umas vinte. Lembro que, afora as camisas amarelas, tínhamos umas duas camisetas que ganhamos da Suzuki, pois mandamos um e-mail para a sede da marca dizendo que viajaríamos cerca de 10.000km em três motos Suzuki. Mandaram, salvo engano, seis camisetas para o grupo, duas para cada. Pena que não tenho mais nenhuma dessas preciosidades, nem das amarelas, nem da Suzuki.

Mais uma vez lamento não ter fotos na Ilha de Itaparica, por onde passamos na ida e na volta.

No post anterior estávamos em Itabuna-BA, agora já estamos em Linhares-ES. Rápido, não?

Pois saibam que é muito chão e, como diz o Rei da MPB, são muitas emoções. Gostaria de poder descrever a alegria das retas, o temor das curvas e ultrapassagens, as paisagens novas, o vento no corpo, o sol, a chuva, o companheirismo, as brincadeiras que tirávamos entre nós, enfim... o imponderável, o intangível... a vida passando diante de nossos olhos, o cheiro do campo, a sensação de estar, naquele momento, construindo um capítulo singular de nossas biografias.

Isso foi quase um devaneio... mas, voltando ao mundo real...

A minha moto tinha um grave problema no escapamento. Não sei onde estava com a cabeça, mas havia tirado o "miolo", ainda em Maceió, para que o ronco ficasse mais alto (no miolo, há uma estrutura metálica e um revestimento de lã de vidro). Geralmente não se tira o miolo de escapamentos originais. O procedimento padrão é: trocar o escapamento, colocando um esportivo, sem o miolo. A vantagem de tirar o miolo é que, com um ronco mais audível, sua presença pode ser notada mais facilmente por carros, outras motos, pedestres, animais etc. Os roncos originais, mesmo das esportivas, são muito silenciosos.

Ocorre que, tirando o miolo, da surdina de fibra de carbono, ficou apenas a casca, de fibra de carbono, que não aguenta o calor. O ronco ficou bonitinho, verdade, mas a casca de fibra não aguentou e derreteu durante a viagem, fazendo com que o barulho passasse a ser algo ensurdecedor. Confesso que me arrependi, amargamente, pois tive de comprar outra ponteira de escapamento, em São Paulo, dessa vez em inox. A de fibra de carbono era linda e tinha sido cara... então, fica o conselho: se trocar o escapamento original, prefira aço inox ou alumínio. Se comprar em fibra de carbono, não tire o miolo!

Hsu relatou, recentemente, que a ponta metálica da ponteira de fibra de carbono caiu no momento em que eu estava em sua frente, tendo passado por ele como um projétil assassino. Estamos nos referindo a uma pequena peça, do tamanho de uma xícara de chá, talvez um pouco maior, feita em aço inox, que, quando caiu da ponteira do escapamento, bateu no asfalto e saiu quicando, alto, em direção ao Chinês. Agora é engraçado, mas poderíamos ter tido problemas com isso.

Como disse anteriormente, Hsu providenciou contato com os motoclubes do caminho. Ao chegarmos em Linhares-ES, fomos muito bem recebidos pelo Gouveia, com sua belíssima HD (Harley-Davidson) azul, foto acima. Lembro que o Gouveia é médico.

Segundo nosso amigo Gouveia, moto só presta para andar bem devagar, conduta que entre nós recebe a denominação carinhosa de "roda presa". Pois bem, nossos amigos capixabas, pelo menos os que andam com o Gouveia de Linhares, são soft-estradeiros: gostam de passear lentamente com os amigos, em dias ensolarados, em boas estradas.

Daniel e Hsu, ajeitando algo na moto do Daniel, em Linhares. Será que foi o cabo da embreagem? Não lembro. Daniel tinha as ferramentas e a habilidade. Hsu deu o apoio moral (com a chave de sua moto pendurada no pescoço) e eu tirei a foto histórica. Devo destacar que, dos três, eu detinha os mais parcos conhecimentos de mecânica de motos. Hoje em dia sei mais um pouco, mas ainda sou, dos três, o menor conhecedor desses instigantes mistérios. Se morássemos numa cidade maior, talvez São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba etc, seguramente procuraríamos um curso específico de mecânica de motos, assim como cursos de pilotagem avançada.

Por falar nisso, soube recentemente, no Salão Duas Rodas de Recife, que há uma escola de pilotagem avançada para motociclistas em Caruaru-PE. Fiquei até empolgado, espero que não seja apenas para os Power Rangers (motociclistas de motos superesportivas, o que não é a nossa praia).

Já que falei em Salão Duas Rodas, gostaria de ressaltar que o de Recife, agora em 2009, foi uma "negação". Mas, como foi o primeiro, vamos torcer que melhore.

Em 2001 fui ao Salão Duas Rodas de São Paulo, com o Chinês. Muito bom, depois colocarei algumas fotos, se o Hsu as enviar. Lembro que encontramos nosso amigo "Bicho de Pena" em Sampa.

Este ano haverá o Salão Duas Rodas Internacional de São Paulo, em outubro. O evento, salvo engano, é bienal. Vamos ver se o Daniel e o Chinês topam... têm a manha?


Em Linhares, felizes e cansados. Acho que já estava com os pés doendo. Sofri bastante, até Santos-SP, pois a minha moto não possuía uma boa ergonomia para o meu tamanho. Entre as várias providências adotadas em Santos, onde passamos cerca de quatro dias, destaco a instalação de pedaleiras avançadas, no mata-cachorro, que acabou com a dor nas minhas pernas.

Lembro que o hotel de Linhares era bem bonzinho, com um pátio interno que servia de estacionamento. Ficamos nele na ida e na volta e acho que não era caro, mesmo considerando que cada um ficou sozinho em um apartamento, a partir de Itaparica.