A imagem acima é do marcador de livro! Brinde para quem comprar...
Conforme o prometido, segue trecho selecionado (texto da orelha do livro):
O RELATO DE NANNA (FRAGMENTO)
"Durante a minha vida inteira tive a impressão de estar vivendo de forma plural. Sempre aqui e ali, mas em lugar nenhum de verdade. Os colegas do colégio, os amigos da vizinhança, as garotas do ballet, a minha família. Para cada grupo de relacionamento e ainda em relação aos outros tantos que vieram depois, eu sentia que quem estava ali era um outro eu. Melhor, sentia que estava ali apenas um pedaço de mim, superficial e incompleto. A um só tempo verdadeiro e falso, presente e ausente.
No início achava que todos sabiam de alguma coisa que eu não sabia. Não podia dar outra explicação. Ficava perplexa diante das motivações que levavam os outros a agirem de maneira tão compenetrada. Aquela seriedade, aquela sisudez, aquele comprometimento. Para quê? – sempre me perguntei. Onde queriam chegar com isso? Era como se acreditassem no que estavam fazendo, no que estavam vivendo, no que queriam. E de fato acreditavam mesmo. Como doía em mim. Todas aquelas opiniões formadas, todos aqueles interesses definidos. Passada a perplexidade, vinha a opressão. O que é que todo mundo sabe que eu não sei? O que é que todo mundo quer, que eu ainda não entendi?
É verdade que tudo vivi intensamente, mas não da mesma forma como eu via as outras pessoas viverem. Elas eram aquilo que estava ali, podia ver o entusiasmo em seus olhos, sentir a vibração em seus semblantes. Acreditavam no que eram e no que poderiam ou deveriam ser. Mais do que isso. Acreditavam que eu era um deles, que pensava igual, que queria as mesmas coisas. Tolos.
Ou será que a tola sempre fui eu? Não sei nem quis mais saber. Com o tempo nada disso passou a importar. Transformei essa perplexidade em conhecimento. Fiz da dúvida a minha certeza e ganhei muita liberdade assim.
Tornei-me mais eu, mesmo ainda vivendo muitas vidas, participando de muitos grupos, parecendo pertencer integralmente a cada um deles, doando-me sem me entregar, guardando para mim a minha força. Talvez por isso nunca tenha feito muita questão de nada. Talvez por isso tenha sido bem-aceita em todos os círculos.
Protegi de tudo aquele sentimento inicial de não pertencer a nada, que antes tanto sofrimento me causara. Depois as coisas se inverteram. A partir de certo momento era como se eu soubesse de algo que ninguém mais sabia. Divertia-me ao ver as pessoas se apegando a fragmentos de vida, como se estivessem diante da vida inteira. A minha, não. A minha vida sempre esteve muito bem dividida, em partes desiguais. Quase nada para o resto e quase tudo para mim."
clap clap clap!
ResponderExcluir(arrepios)
The best book ever!!!
Ana Maria Lustosa
Esse instigante trecho atiça a curiosidade e qualquer leitor. O livro vai ser um sucesso! Beijos da irmã.
ResponderExcluirVc sabe bem despertar o interesse.. Aposto que, como eu, muitos estão na expectativa da leitura!! Quando será a Noite de Autógrafos?!?! Bjoo, Carlinha.
ResponderExcluirFiquei com vontade de reler... :*
ResponderExcluirFernanda