quarta-feira, 25 de março de 2009

Monólogo das mãos

Como a questão das mãos, após a postagem do texto Aperto de mãos, tornou-se mais instigante, tendo recebido excelentes intervenções, lembrei do famoso Monólogo das Mãos, de Ghiaroni, frequentemente declamado pelo ator Lúcio Mauro, o pai, o que fez com que ganhasse parte da notoriedade de que hoje dispõe.

Não que seja um belíssimo monólogo, pelo menos na minha modesta opinião, mas é bem famoso e, por isso, possui certa relevância histórica.

"Para que servem as mãos?

As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever......


As mãos de Maria Antonieta, ao receber o beijo de Mirabeau, salvou o trono da França e apagou a auréola do famoso revolucionário;


Múcio Cévola queimou a mão que, por engano não matou Porcena; foi com as mãos que Jesus amparou Madalena; com as mãos David agitou a funda que matou Golias; as mãos dos Césares romanos decidia a sorte dos gladiadores vencidos na arena; Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência; os anti-semitas marcavam a porta dos judeus com as mãos vermelhas como signo de morte!


Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço o laço que os outros Judas não encontram. A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a corda; o operário construir e o burguês destruir; o bom amparar e o justo punir; o amante acariciar e o ladrão roubar; o honesto trabalhar e o viciado jogar.


Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba! Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia! As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; os remédios e os venenos; os bálsamos e os instrumentos de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva.


Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com elas protegemos a vista para ver melhor. Os olhos dos cegos são as mãos. As mãos na agulheta do submarino levam o homem para o fundo como os peixes; no volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros.


O autor do «Homo Rebus» lembra que a mão foi o primeiro prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida; a primeira almofada para repousar a cabeça, a primeira arma e a primeira linguagem. Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas.


A mão aberta, acariciando, mostra a bondade; fechada e levantada mostra a força e o poder; empunha a espada a pena e a cruz! Modela os mármores e os bronzes; da cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia nas formas eternas da beleza. Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza; doce e piedosa nos afetos medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos.


O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto de amizade ou um juramento de felicidade. O noivo para casar-se pede a mão de sua amada; Jesus abençoava com a s mãos; as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes. Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica, ainda por muito tempo agitando o lenço no ar.


Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias.


E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos para o mundo e quando os fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem.


Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino.


E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera que continuam na morte as funções da vida.


E as mãos dos amigos nos conduzem...


E as mãos dos coveiros nos enterram!"

4 comentários:

  1. Pois é companheiro Humberto. As mãos estão sempre na orígem de tudo, do bem e do mal.
    Poderemos discorrer aqui sobre milhares de ações das mãos, sejam simbólicas ou não.
    Esquecemos ainda do monólgo "As mãos de Eurídice".
    Esquecemos que através das mãos os ciganos esmiuçam nossas vidas.
    Através das mãos, conseguimos identificar a idade daquela Balzaquiana que conseguiu, por algum tempo, nos induzir a erro de avaliação.
    Poderemos passar o ano inteiro descobrindo os significados delas.
    abs.

    ResponderExcluir
  2. Querido filho,
    Amei reler o Monólogo das Mãos,é muito interessante e lindo,vc teve uma feliz ideia de escrever no seu blog.
    Beijos da mamãe!!!!!!!!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  3. que texto emocionante!
    Adorei!
    Bjo!
    Fernanda

    ResponderExcluir
  4. Todos esses textos sobre mãos são encantadores.
    Beijos da irmã.

    ResponderExcluir

Muito obrigado pelo comentário!